Thursday, July 29, 2010

Beatallica: a união divertida de dois gigantes

(Texto também publicado na Collector´s Room e no Metal RO)

Quantas vezes você leu em uma resenha de um novo grupo alguém dizer que este era uma mistura de duas ou três bandas? Lembro-me de ter lido algo do tipo quando alguém descreveu-me o som do Dream Theater, no início da década de 90, como uma mistura de Yes, Metallica e Rush (NA: nos comentários deixe outros exemplos). Bem, o Beatallica é o maior exemplo dessa mistura de bandas.

Pegue a maior banda inglesa de todos os tempos e junte com a maior banda de metal dos Estados Unidos. The Beatles e Metallica. Pronto, você tem o Beatallica. A banda lançou em 2001 seu primeiro registro, um EP chamado A Garage Days Nite. Que combina, como vocês mesmo já deduziram, o EP, Garage Days Revisited, do Metallica e o disco A Hard Days Night da banda britânica.

Possivelmente o início da banda foi um tipo de brincadeira feita para uma apresentação em um evento anual de Milwaukee. Dessa apresentação foi gravado o EP citado acima com apenas algumas cópias sendo lançadas e entregue para amigos e conhecidos. Uma dessas cópias parou na mão de alguém que criou um site disponibilizando em MP3 as sete músicas do EP. O interessante é que nem mesmo a banda sabia desse site e também não sabia que a banda já tinha até um número considerável de fãs.

Primeiro CD: Sgt Hetfields´s Motorbreath Pub Band (2007)

Músicas como “Sgt Hetfield’s Motorbreath Pub Band” e “And Justice for All My Loving” são ótimos exemplo do que a banda fazia musicalmente, que era basicamente tocar as músicas dos Beatles como se fosse a banda liderada por James Hetfield. Os efeitos e timbres dos instrumentos, e principalmente a voz de Jaymz Lennfield (John Lennon + James Hetfield), são muito parecidas com os do Metallica. Era tão parecida que, como ninguém sabia quem era a banda no início, começaram a achar que era o próprio Metallica que estava fazendo aquelas músicas.

Algum tempo depois da descoberta do site e da base de fãs a banda lançou um novo EP e começou a fazer alguns shows. O que acontece quando você mistura tintas branca e preta? A mistura se torna cinza, Então o que aconteceria se você juntasse o álbum The Beatles (Álbum Branco) com o álbum Metallica (Black Álbum)? Você teria o Beatallica, que começou automaticamente a ser chamado de The Gray Álbum, ou O Album Cinza. Com música como "Blackend the USSR" e "Leper Madonna".

Porém o sucesso trás notoriedade e isso também trás aborrecimentos. Para não ter problemas com questões legais as músicas até então eram distribuídas de graça por meio de download e o nome dos membros eram mantidos em sigilo. Mas a venda de merchandising do site começou a atrair denuncias de quebra de direitos autorais. A saída foi fazer um pedido para legalizar a banda. Inclusive quem os ajudou foi Lars Ulrich que ofereceu apoio jurídico. O resultado disso foi que em 2007 foi lançado o CD Sgt Hetfield’s Motorbreath Pub Band que continha as músicas dos dois primeiros EPs. Assim a banda continuou lançando singles, maxi-singles até o seu segundo CD chamado Masterful Mistery Tour em 2009.

Segundo CD: Materful Mystery Tour (2009)

Além de Jaymz Lennfield a banda também tinha Grg Hammetson, Kliff McBurtney e Ringo Larz. Depois da legalização da banda soube-se os nomes reais dos músico que são, na ordem, Michael "Tinker" Tierney, Jeff Hamilton, Paul Terrien e Ryan Charles. Porém se você for atrás dos discos pode encontrar outro nome, Joey Nicol, descrito como músico convidado que é nada mais nada menos que Mike Portnoy, o monstro baterista do Dream Theater.

Beatallica encontra Metallica em 2009

Claro que temos que encarar a banda como algo inusitado, engraçado e divertido. Nem mesmo os músicos se levam a sério. O que mais torna essa banda legal é a sua criatividade. Alguém pode dizer que a banda não criou nada então não pode ser chamada de criativa, mas só de ter essa sacada e fazer disso algo agradável já lhes confere muitos créditos. Outro ponto que tenho que citar é que podemos ver como o rock and roll, mesmo com seus inúmeros estilos que podem soar tão diferentes para as pessoas, na verdade tem uma só raiz. A diferença entre os estilos é somente o modo de tocar, o peso e a utilização de todos os elementos. O Beatallica não vai ser sua banda preferida, mas é um ótimo tipo de música para entreter seus amigos em churrascos quando sempre existe brigas sobre o que vai rolar no som.

Thursday, July 08, 2010

Heavy Metal - A História Completa


(Texto também publicado na Collector's Room e no Metal/RO)

Até uns anos atrás era difícil encontrar aqui no Brasil lançamentos de livros sobre música. As biografias de estilos, bandas e músicos eram conhecidas pelos fãs por meio das revistas especializadas e também pela internet. Porém isso mudou de um tempo para cá como mostra a própria Collector´s Room que tem feito regularmente resenhas de livros.

Descobri esse livro por uma matéria da Whiplash e fiquei muito empolgado já que o Heavy Metal é meu estilo de coração. Foi com ele que comecei minha história de fã de música lá no final da década de 80 e, se considerarmos que o metal surgiu com o Black Sabbath em 1970, assim vivi metade da história do metal. Claro que depois disso comecei a escutar outros estilos ligados ao rock, mas o metal foi o início de tudo.

Logo nas primeiras páginas existe uma linha do tempo citando fatos importantes para o estilo servindo como se fosse uma linha de raciocínio que ajudou o autor a montar a estrutura do livro.

O livro começa, como se é de esperar, contando o início do estilo. Porém uma das coisas que notei é que o autor não fica enrolando contando histórias de todos os músicos de blues das áreas rurais americanas como acontece em inúmeras outras publicações. O autor é muito mais direto e inicia sua narração no dia 13 de fevereiro de 1970, uma sexta feira, dia do lançamento de um dos debuts mais clássicos de toda a história da música, o álbum auto-intitulado do Black Sabbath.

O que mais me chamou a atenção foi que exceto aos capítulos sobre a famosa NWOBHM e sobre o tão falado Black Metal norueguês é que o livro tem como foco principalmente a música americana. O autor, Ian Christe, é um jornalista americano que escreve para a Kerrang, Wired e Spin o que explica essa predominância do metal americano.

Claro que as bandas inglesas são citadas ao longo do texto, mas sempre como uma referência distante. Como se a época das trocas de fitas cassete, sempre citada no livro, ainda fosse atual. E claro que nessa época o que estava mais próximo, no caso as bandas americanas nos Estados Unidos, era o que mais se conhecia.

Outro ponto que é preciso citar é a compreensão dos americanos em relação ao Metallica. Entre os fãs de metal sempre há a necessidade de se ter uma opinião de quem é a maior banda do estilo e muitas vezes acabamos tendo o Metallica e o Iron Maiden como dois polos. Mas no livro é clara a consideração do Metallica como a mais importante banda do estilo. Isso fica tão claro que o Mercyful Fate é possivelmente citado mais vezes que o próprio Iron Maiden apenas por ser uma histórica banda que influenciou um garoto dinamarquês que se mudou para os Estados Unidos para jogar tênis e resolveu montar uma banda.

Ao longo do livro o autor conta o nascimento dos vários sub-estilos do heavy metal e apresenta uma lista de seus discos relevantes. É claro que essas listas são pessoais e servem apenas como um direcionamento não é feito de acordo com uma análise objetiva.

Muito interessante é o modo que ele discorre sobre a década de 90 que foi, para muitos, a década da “morte do metal”. Percebemos claramente que o sucesso que o estilo obteve na década de 80 teve que ser engolido pela mídia. Ou seja, a mídia apenas cobria o estilo por não ter outra opção e no primeiro deslize do estilo essa mesma mídia decretou sua morte. E por deslize entendam pelo enfraquecimento momentâneo que algumas bandas top estavam passando na época como são os casos do Iron Maiden e Metallica só para citar as bandas que já foram comentadas aqui. Também cita o caso da MTV que tinha o metal como um de suas bandeiras no início do canal e o abandonou de vez depois dos anos 90.

Porém, como sabemos, essa “morte do metal” na verdade nunca existiu e o próprio livro dá um dado que pode até ser polêmico, mas achei muito interessante:

“Segundo a RIAA, a organização responsável pelas premiações de discos de ouro e platina desde 2000, o Metallica havia vendido tantos discos nos Estados Unidos em 15 anos quanto os Rolling Stones jun taram todas suas lendária quatro décadas.”

Dentro desses 15 anos citados não estão computados os anos da década de 80. Ou seja, basicamente essas vendas foram da década de 90 e também dessa primeira década do século XXI.

O livro é muito interessante para quem se interessa pela história da música. Muitos que forem ler ou estiverem lendo esse livro podem não concordar com muita das coisas que se fala nele, porém como todo e qualquer livro temos que analisar, além da história que está sendo contada, mas o ponto de vista de quem está contando a história também.