Tuesday, April 19, 2011

Tributo ao Iron Maiden: SESC Porto Velho, 13 de abril de 2011



Quando o pessoal do site Metal RO me informou que estava organizando um show-tributo ao Iron Maiden em parceria com a escola de música Sol Maior, fiquei imaginando se o evento daria certo. Falo isso porque, nos finais de semana quando eventos de heavy metal acontecem aqui em Porto Velho (Rondônia), a presença do público é meio escassa; aliás, como acontece em diversos lugares do Brasil. Porém, nesse caso o que aconteceu foi totalmente o contrário.

Hugo Borges, colaborador do Metal RO e vocalista do projeto, solicitou-me um artigo a respeito das canções que seriam executadas no dia. O texto deveria conter informações sobre as músicas, os álbuns, curiosidades da época e qualquer outro tipo de dado interessante. O conteúdo desse artigo seria utilizado em um folder e também comentado durante os intervalos das músicas. Esse foi o diferencial entre o evento e um show qualquer de uma banda cover: o caráter informativo e de divulgação. Por mais que o Iron Maiden hoje em dia não careça mais de tanta divulgação, muita gente não conhece diversos aspectos da história da banda, emprestando grande validade ao espetáculo.


Muitos conhecem as músicas, apreciam e admiram a banda, mas desconhecem vários assuntos relacionados, mesmo informações mais simples, como de qual disco são determinadas faixas. Muito disso se deve ao modo com o qual as pessoas têm acesso à música hoje em dia. Quando alguém faz o download de um disco, muitas vezes não conhece nem a capa do mesmo. Também existem aqueles que inserem as músicas em uma lista de reprodução enorme, colocam no modo shuflle e ficam escutando. Desse modo, a pessoa acaba conhecendo todas as faixas, mas não a unidade de um álbum. Não consegue identificar a diferença entres as fases e a evolução do grupo ao longo dos anos. Acredito que o evento tenha sido importante não apenas para passar informações, mas também para tentar incentivar esses fãs a se aprofundarem na história que envolve não só o Iron Maiden, mas as bandas em geral.


Como o tributo era para a Donzela de Ferro, perguntei para Hugo se seria adequada uma exposição com material da banda. Tanto ele quanto os outros organizadores gostaram da idéia, então me prontifiquei a fazê-lo. Como colecionador, gosto de conhecer o acervo de outras pessoas, de obter detalhes que normalmente não conseguiria sozinho, conversar sobre os discos e suas particularidades e, principalmente, falar de música. Algumas pessoas enxergam essa intenção de mostrar uma coleção como algo exibicionista, mas quem coleciona e se identifica com tudo aquilo que citei logo acima entende o real motivo disso.


Apesar da falta de espaço e tempo para organizar tudo, acredito que a intenção de tentar incentivar as pessoas a olhar o disco físico como um objeto que vale a pena deu certo. Quando falo “disco” estou me referindo a qualquer mídia que um artista utilize, como CD, LP, compacto, DVD, revistas e memorabília em geral. Não foram poucas as perguntas que respondi a respeito de diversos itens e de como adquirí-los, mas o que mais me chamou a atenção é o fato de que poucas pessoas dessa nova geração tiveram acesso ao LP. Com diversos itens mais interessantes, foi surpreendente a quantidade de pessoas que queriam ver os antigos bolachões. A impressão que dá é a de que esse formato é visto como algo curioso que remete a “épocas distantes”. O modo que os LPs foram admirados me lembrou uma visita de estudantes a um museu com peças da Antiguidade. O espanto era grande quando eles viam que os discos mais recentes também tinham versões em LP.

Público mostrando interesse

Muita gente perguntou se os itens estavam à venda e ficou surpresa pelo fato de alguém ter interesse em colecionar e se dedicar a tudo isso. Mas acho que pelo menos uma semente foi plantada em cada um daqueles que se interessaram pelo acervo. Conheço e sei de diversas coleções muito maiores e mais abrangentes que a minha, mas acho que pelo menos a finalidade da exibição foi atingida.

A banda em ação
 
Não posso deixar de parabenizar a banda que executou todas as músicas com o esmero que os clássicos do Iron Maiden merecem (ouça aqui uma amostra do que foi tocado com "Die With Your Boots On"). O público lotou o teatro do SESC e ficou sentado como se estivesse assistindo a uma peça teatral. Tenho certeza que o objetivo desse evento foi alcançado e abriu oportunidades para que outros mais venham a acontecer.

Friday, April 08, 2011

Review Exclusivo: " Eu vi o Iron Maiden de perto em Belém"


Por Jairo Granado
Revisão e comentários finais por Fernando Bueno

O dia 1º de abril de 2011 ficará marcado na minha vida como o dia no qual realizei um sonho: estive em um show do Iron Maiden. Não foram somente quatro meses de espera, desde o dia em que fiquei cinco horas em pé, em uma madrugada de dezembro, aguardando na frente de um shopping center para comprar o ingresso no primeiro dia de venda. Essa espera ocorre desde 1982, quando, aos sete anos de idade, escutei o disco The Number of the Beast que minha irmã havia comprado.

O Iron Maiden foi e ainda é a trilha sonora da minha vida, mas sempre imaginei que nunca conseguiria vê-los ao vivo. Cresci deitado na frente de um aparelho de som, com os fones de ouvido e lendo os encartes dos discos, imaginando como seria maravilhoso se eu pudesse presenciar um show da minha banda preferida.

Ed Force One, o avião particular do Iron Maiden, pilotado por Bruce Dickinson

Mas esse dia chegou. Eu e meu brother Fernando Bueno chegamos ao local do show antes das 16 horas e a fila já era enorme. Chuva torrencial, todo mundo molhado, mas feliz em estar vivendo esse momento histórico na capital paraense. O único ponto negativo desse dia foi a péssima organização da Bis Promoções e Eventos. Não havia ninguém da produtora para organizar e orientar os fãs, ficamos dentro de uma vala com lama cobrindo nossos tênis e várias pessoas aproveitaram a falta de fiscalização para furarem a fila. Acho que a produtora, acostumada a trazer a Belém os Parangolés e Restarts da vida, deve ter imaginado que headbanger não é gente, só pode ser isso.

Depois de entrarmos no Cidade Folia (local do show), continuava sem acreditar que, dentro de poucas horas, meus ídolos estariam na minha frente. A noite começou com a abertura da banda paraense Stress, pioneiros no metal nacional, que fizeram a galera cantar seus grandes clássicos. O baixista e vocalista Roosevelt Bala estava visivelmente emocionado, fato que eu e Fernando comprovamos quando conversamos com ele no final do show. Grande show e um merecido reconhecimento para o Stress.

Iron Maiden em ação no palco de Belém.

Com poucos minutos de atraso, começou a ecoar a gravação de "Doctor Doctor" do UFO e a galera foi ao delírio, já que todos sabem que essa é a deixa para o início do show. O espetáculo iniciou com a longa introdução da música "Satellite 15... The Final Frontier", e confesso que foi angustiante esperar. Não consegui ver a entrada do Nicko McBrain atrás da bateria, mas de repente surgiram Adrian Smith, Dave Murray, Janick Gers e Steve Harris. Não acreditava naquilo. Estava bem perto de Adrian e Dave e confesso que meu coração quase saiu pela boca. De repente vejo um cidadão correndo, dando um salto e caindo de pé em minha frente. Era Bruce Dickinson, a poucos metros de mim. Até o final da primeira música e durante toda a segunda, "El Dorado", não fiz nada além de olhar para os caras e me perguntar se aquilo realmente estava acontecendo. Para aumentar ainda mais meus batimentos cardíacos, Steve Harris se aproximou e apontou o baixo para frente, como nos vídeos que cresci assistindo.

Ouvir Bruce Dickinson gritando "scream for me Belém" e a banda tocando "2 Minutes to Midnight" foi maravilhoso. O show seguiu com mais duas músicas do disco novo, "The Talisman" e "Coming Home", que serviram para que eu recuperasse o fôlego. "Dance of Death" ao vivo é maravilhosa. O que dizer da sensação em ver Bruce Dickinson com a bandeira do Reino Unido cantando "The Trooper"? O show seguiu com "The Wicker Man" e "Blood Brothers", dedicada por Bruce aos fãs do Japão, como já havia feito em todos os shows após a tragédia em terras nipônicas. A melhor música do disco novo não faltou: "When the Wild Wind Blows". Ainda tivemos "The Evil that Men Do" e "Fear of the Dark", quando eu perdi minha voz definitivamente. Encerraram a primeira parte com a clássica "Iron Maiden", quando outro sonho foi realizado: ver Eddie de perto.

Conferindo o Iron Maiden pela primeira vez

Após uma pequena espera, o bis começou com "The Number of the Beast". Não aguentei e chorei, agradecido por estar vivendo aquele momento. "Hallowed Be Thy Name" foi magnífica e o final com "Running Free" me deu a sensação de estar na gravação do álbum Live After Death (1985).

Esperei 28 anos para ver de perto meus ídolos, e desde o dia do show não paro de pensar em cada momento que vivi naquele 1º de abril. Dia que ficará marcado para sempre na minha vida como um dos momentos mais importantes de todos. Banda perfeita, show perfeito, mas com uma organização que poderia ter sido muito melhor. Quem sabe da próxima vez a produtora aprenda com os erros? Torço por isso. Up the Irons!

Set list:
1. Satellite 15... The Final Frontier
2. El Dorado
3. 2 Minutes to Midnight
4. The Talisman
5. Coming Home
6. Dance of Death
7. The Trooper
8. The Wicker Man
9. Blood Brothers
10. When the Wild Wind Blows
11. The Evil that Men Do
12. Fear of the Dark
13. Iron Maiden

Bis:
14. The Number of the Beast
15. Hallowed Be Thy Name
16. Running Free


Comentários por Fernando Bueno

Quando escolhi Belém para assistir o show dessa turnê brasileira, não havia pensado, nem lembrado, que esse seria a primeira apresentação da banda na cidade paraense. Mesmo na fila - aliás, fila é um modo muito simpático para chamar aquela aglomeração desordenada - fiquei pensando que, se for feito um levantamento de todas cidades do mundo onde o Iron Maiden já tocou, é possível que essa lista seja a mais extensa entre todas as bandas que já fizeram turnês mundiais.

Lista de cidades compreendidas na primeira parte da turnê

Estive no show de 1998 no estacionamento do Anhembi (São Paulo). Quem foi lembra da chuva que caiu durante a apresentação do Helloween. Foi um dilúvio, mas confrontada com a que caiu na sexta feira passada, a chuva de São Paulo é comparável a uma garoa. Não ficaria surpreso se alguém dissesse que quem rotulou São Paulo como a terra da garoa foi um paraense. Os ingleses do Iron Maiden, acostumados ao chá das cinco, foram apresentados à famosa chuva das cinco de Belém.

Achei a escalação do Stress a mais acertada dos últimos tempos para a abertura de bandas importantes em terras brasileiras. Claro que o fato do grupo ser da cidade ajudou, mas acredito que ninguém merecia tanto essa oportunidade. Conversando com Roosevelt Bala após o show, deu para ver que o cara estava muito feliz com o que tinha acabado de ocorrer. É claro que não posso deixar de elogiar a performance da banda, que foi ótima.

Veterano, mas ainda emocionado

O show do Iron Maiden em si não teve surpresas. Hoje em dia nós sabemos previamente a sequência das músicas e que a banda não costuma mudar o set list de show para show. Penso que a apresentação do sexteto é como uma peça de teatro. Tudo programado e roteirizado. A diferença é que a atuação é sempre em altíssimo nível.

Muitos reclamam dessa falta de supresas, no entanto penso que ela é normal. Afinal, mesmo que o Iron Maiden tenha tocado diversas vezes em várias cidades pelo mundo, muita gente que vai a um desses shows está fazendo isso pela primeira vez, como foi o caso do Jairo, e a banda atende perfeitamente a esses fãs. O resultado disso é que o grupo tem uma renovação de fãs invejável em relação a muitos outros artistas.

O material do novo disco, The Final Frontier (2010), ficou ótimo ao vivo. Foram cinco músicas do álbum entre as desesseis que foram executadas. É uma porcentagem grande, mas depois da turnê focada em clássicos dos anos 80, essa escolha em abordar o material mais recente é natural.

Grande show como sempre, e que venham muitos outros!