Monday, May 16, 2011

Discografia Comentada: Grim Reaper


Por Fernando Bueno

Formado na Inglaterra em 1979 pelo guitarrista Nick Bowcott, o Grim Reaper é, hoje em dia, injusta e praticamente desconhecido, juntando-se à categoria das bandas que mereciam melhor sorte. Após uma grande sequência de mudanças em sua formação, o grupo se estabeleceu com Steve Grimmett (egresso do Chateaux), na voz e Dave Wanklin no baixo. A bateria continuou sendo um problema, dado que vários músicos ocuparam essa posição no quarteto.

Nick Bowcott
Apesar de sua origem datar de 1979 e de ser caracterizado como integrante da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), o Grim Reaper gravou seu primeiro disco apenas em 1983, quando as grandes bandas do movimento já tinham sucesso estabelecido. Talvez isso tenha influenciado no fato do grupo ser pouco lembrado hoje em dia, tendo em vista que a concorrência era muito grande, em especial vinda de bandas como Iron Maiden, Saxon e Def Leppard, que polarizavam a cena. Seu contrato com a Ebony Records foi conseguido depois de terem vencido um concurso chamado Battle of the Bands, em que participavam cem bandas.

Uma marcante característica da curta carreira da banda é que seus poucos discos são muito equilibrados entre si: os três álbuns possuem a mesma grandeza quando comparamos sua qualidade. Já vi todos sendo citados em vários releases sobre a banda como o preferido na opinião dos autores dos textos. No entanto, tenho que citar que o segundo, Fear no Evil, é mencionado um número menor de vezes.

Steve Grimmet e
Nick Bowcott nos anos 80
Depois do Grim Reaper, Steve Grimmet partiu para o Onslaught, onde esteve entre 1988 e 1990. Nessa época somente um álbum foi gravado. Em seguida, montou o Lionsheart que resultou em quatro álbuns de estúdio e um ao vivo, entre o período de 1993 e 2004. Durante o tempo com o Lionsheart, Steve ainda participou de um projeto chamado Friction, que também rendeu apenas um disco, além de ter reformulado, em 2005, uma antiga banda que tinha, antes mesmo do Chateaux, o Medusa, registrando Clash of Titans.

Posteriormente a seu tempo à frente do Grim Reaper, o guitarrista Nick Bowcott trabalhou como compositor free lancer, sendo depois contratado como escritor pelas revistas Circus e Guitar World. Também trabalhou com o fabricante dos lendários amplificadores Marshall.

Steve Grimmet
Em 1994, o nome Grim Reaper apareceu novamente na mídia graças à aparição do clipe de “See You in Hell” durante um episódio de Beavis and Butthead. O engraçado é que a dupla curtiu a música, mesmo comentando que o tipo de som era datado, com ressalvas de que a banda era muito conhecida antes deles nascerem.

Pouco tempo atrás, Steve Grimmet reformulou o Grim Reaper, porém sem o guitarrista Nick Bowcott. Até por isso, o vocalista não está usando exatamente o nome da banda e sim “Steve Grimmet’s Grim Reaper” chegando a fazer alguns shows no Brasil em novembro de 2010 junto com outra clássica banda da NWOBHM, o Raven.

See You in Hell [1983]

Gravado em apenas quatro dias, See You in Hell, conseguiu sucesso e chegou à posição de número 73 na Billboard. Também teve o videoclipe da faixa título circulando com boa frequência na MTV. O álbum conta com uma produção ruim, algo normal na época, principalmente em se tratando de bandas novas. Lembremos que, mesmo o Iron Maiden, que havia assinado com a poderosa gravadora EMI, gravou um primeiro álbum cuja produção é até hoje criticada pelo baixista Steve Harris. Na época do lançamento, o heavy metal já havia se estabelecido na cena musical, e várias bandas já tinham conquistado grande sucesso, e com o Grim Reaper não foi diferente, vendendo mais de 250 mil cópias nos EUA. Muito desse sucesso se deve à arrebatadora voz de Steve Grimmet que era um diferencial da banda, o que é mostrado logo de cara em “Dead on Arrival”. “See You in Hell” sem dúvida nenhuma é o maior destaque. Décadas depois, essa música foi inserida em um jogo da famosa série “Guitar Hero”, mostrando que ainda existe quem se lembre do Grim Reaper. Após ela vem “Dead on Arrival” e “Wrath of the Reaper”. Também se faz presente uma daquelas belas baladas heavy metal, “The Show Must Go On”.

Fear no Evil [1985]

Contando com um tempo “muito superior” ao que teve para gravar o primeiro disco, Fear no Evil precisou de nove dias (!) para ser finalizado. A produção teve uma ligeira melhora. A bateria, para variar, tinha um novo comandante, ficando dessa vez a cargo de Marc Simon, substituindo Lee Harris. Outro videoclipe, também para a faixa título, foi gravado, tendo também boa visibilidade na MTV. “Fear No Evil” possui leves mudanças de andamento e uma ótima passagem com guitarras gêmeas, mesmo com a banda contando com apenas um guitarrista, algo normal em se tratando de gravações em estúdio. Seu refrão faz com que todos cantem mesmo que tenham conhecido a banda há pouco tempo. Outro destaque é “Lay It on the Line”, que não é um cover da banda canadense Triumph, e sim uma música com uma pegada hard/heavy, quase nos moldes dos grupos de hard rock norte-americanos. A faixa “Lord of Darkness” possui uma vocalização que se assemelha a do próprio Belzebu, apresentando a canção. O mesmo tipo de voz foi usado no desnecessário diálogo inicial de “Final Scream”, mas dessa vez com a companhia de outra voz infantilizada. Bem brega!!! Muito se fala que a fase vivida pelo heavy metal mundial nessa época atrapalhou a banda, já que o interesse de muitos estava voltado para o speed e para o thrash metal. Como o Grim Reaper enveredava para os caminhos do heavy tradicional com pitadas de hard rock, o grupo teve uma repercussão menor que a merecida. Muitos outros fatores podem ter influenciado o resultado, mas historicamente é isso que vai ficar.

Rock You to Hell [1987]

Logo depois de Fear No Evil o Grim Reaper iniciou o processo de composição, ainda em 1986, de seu álbum seguinte, que seria chamado de “Night of the Vampire”. O resultado final não agradou à gravadora que distribuía seus discos nos EUA, a RCA. Dessa maneira, a RCA pagou outro produtor para regravar o disco, o que fez com que a gravadora inglesa, a Ebony Records, alegasse quebra de contrato. Depois de todo esse imbróglio o Grim Reaper finalmente colocou no mercado Rock You to Hell, resultado da regravação de “Night of the Vampire”. Para variar, houve mais uma mudança de baterista, posto preenchido aqui por Lee Harris, que retornava à banda. Mostrando uma enorme evolução em relação à produção dos discos anteriores, o álbum foi mais um sucesso. Esse é o registro mais variado do quarteto, e que conta com as músicas mais agressivas da banda. A faixa-titulo é perfeita para apresentações ao vivo, com seu refrão que pede o acompanhamento em uníssono do público. Ela é seguida pela ótima “Suck and See”, que demonstra a já citada versatilidade do álbum. “Night of the Vampire” mostra porque queriam fazê-la faixa-título do álbum planejado, um heavy metal classudo. Rock You to Hell é meu álbum preferido do Grim Reaper, e toda vez que ouço a faixa “Lost For Freedom” eu entendo o porquê. Não que seja a minha música preferida da banda, mas a simplicidade e a qualidade do refrão mostra que nem sempre é necessário virtuosismo para que algo seja tão bom. É difícil encontrar um destaque negativo, pelo contrário, na sequência temos a pesada “Rock Me ‘Till I Die”, seguida por “You Wish That Your Were Never Born”. “Waysted Love” traz mais um exemplo do hard rock que era incorporado tão bem pela banda. O disco fecha, ironicamente, com a canção “I Want More”, sendo que o Grim Reaper não teve mais nada depois disso. Com todo o desgaste advindo da gravação do álbum e de seu lançamento, a banda acabou se desfazendo, mesmo com um disco tão bom, colocando um ponto final na carreira dessa excelente e atualmente subestimada banda.

Friday, May 06, 2011

Opeth - Damnation [2003]


O Opeth é normalmente tido como uma banda de death metal, e seu primeiro álbum, Orchid (1995), arrebatou muitos fãs dessa vertente. Porém, ao longo de sua carreira, a evolução musical da banda foi evidente, e, quando digo evolução, não quero dizer que os músicos aprenderam a tocar melhor e por isso se desligaram do death metal. O que houve foi uma adição de novos elementos ao som da banda, o que lhes trouxe abrangência, um leque musical, muito maior.

Hoje podemos encontrar a banda não só em meio a listas de death, doom e heavy metal, mas também nas listas de prog metal ou simplesmente de progressivo. No site Prog Archives, talvez o maior site do gênero da web, por exemplo, os suecos são classificados como tech/extreme prog metal. Porém, independente do estilo em que você possa enquadrá-los, é impossível não reconhecer o valor do trabalho desses caras.

Confesso que nas primeiras audições de seus discos não fiquei muito impressionado, já que os vocais guturais ficaram muito marcados para mim. Como não sou tão fã desse tipo de voz, não me interessei e nunca mais ouvi a banda. Após a insistência de alguns amigos, voltei a ouvi-la, mas dessa vez através de discos diferentes dos que tinha escutado anteriormente. O álbum que mudou minha opinião sobre a banda foi justamente Damnation, de 2003.

Deliverance: o álbum "irmão"
O registro é uma espécie de “irmão” do pesado Deliverance (2002), que havia sido lançado cinco meses antes. Ambos foram gravados simultaneamente, e a idéia inicial seria que os dois discos fossem apenas um álbum duplo. Até na capa os dois se parecem, já que ambos possuem imagens um tanto borradas. Porém, por serem musicalmente diferentes entre si, a decisão de lançá-los separados foi acertada. Quem ouvi-los sem saber que são da mesma banda pode imaginar estar ouvindo grupos distintos.

O que mais chama a atenção em Damnation, para aqueles que já conhecem o Opeth, é a completa ausência de vocais guturais e o total direcionamento voltado para o progressivo. As influências setentistas são evidentes, mas recebendo uma cara atual. Podemos compará-lo a algum disco do Porcupine Tree ou a 12:5 (2004), do Pain of Salvation, em que Daniel Gildenlöw resolveu apresentar todas as músicas sem peso e de forma acústica. Lembrar de Porcupine Tree é até óbvio quando ficamos sabendo que Steve Wilson, o cabeça da banda, fez a produção tanto para Deliverance como para Damnation. Nesse último, ele ainda atuou como músico convidado, pilotando o mellotron, sendo co-autor de “Death Whispered a Lullaby” (um dos destaques) e fazendo alguns backing vocals.

A formação da época de Damnation, com Mikael Akerfeldt ao centro
Na minha opinião, a melancólica e carregada de acompanhamento de mellotron, “In My Time of Need” contém o melhor refrão e resume muito bem o álbum. Mas é muito difícil citar destaques em um disco tão coeso. O riff principal de “Windowpane”, as diferentes camadas de guitarras de “Death Whispered a Lullaby”, o lindo solo de introdução de “Ending Credits” e os dedilhados em quase todas as músicas vão chamar atenção logo de cara.

Apesar da característica progressiva do álbum como um todo, ele não possui longas canções. A mais longa é a faixa que abre o álbum, “Windowpane” com quase oito minutos de duração. Nos anteriores, Blackwater Park (2001) e Deliverance, e no seguinte, Ghost Reveries (2005), são várias as que passam dos dez minutos.

Mikael Åkerfeldt
Com respeito à falta de vocais guturais, não posso deixar de comentar o ótimo trabalho que Mikael Åkerfeldt fez nesse quesito. Na época, ele afirmou ser um iniciante nesses vocais limpos, mesmo já tendo cantado assim em algumas passagens dos discos anteriores. Claro que, se o resultado não fosse reconhecidamente bom já de antemão, o disco certamente não seria feito dessa maneira.

O Opeth arriscou e obteve êxito. Conseguiu novos fãs de outras vertentes, que não tinham interesse pela banda, e não se queimou com os fãs antigos. Outra coisa que pesa positivamente nessa balança é que, apesar do sucesso, o grupo não virou as costas para sua história, já que no álbum seguinte, Ghost Reveries, voltaram para a fúria sonora a que estavam acostumados. Damnation é altamente indicado para quem gosta de todas as vertentes do rock.