No final do ano passado foi veiculada pela imprensa especializada uma carta aberta do vocalista de uma banda conhecida no cenário brasileiro, direcionada ao público heavy metal deste país. Nessa carta, o artista enumerava os motivos que encontrou para justificar a falta de apoio que as bandas do gênero recebem dos fãs brasileiros e fazia um apelo por maior reconhecimento. Muita gente achou que os argumentos eram pertinentes e muitos deles são reais. Porém, diversas pessoas execraram a atitude do músico, e a carta acabou se tornando motivo de todo tipo de chacota e classificada como um tratado de puro “mimimi”.
Ao ouvir o álbum recém lançado do grupo Hibria, Blind Ride, essa carta me veio à cabeça. Isso aconteceu porque o disco é nada menos que excelente e, para mim, o lançamento desse disco é milhares de vezes melhor na finalidade de ajudar o metal brasileiro a ser mais reconhecido do que uma carta de lamentação.
A banda foi formada em meados da década de 90 em Porto Alegre e, durante esses mais de 15 anos na ativa, já lançou três discos: Defying the Rules (2004), The Skull Collectors (2008) e Blind Ride (2011). A sua formação variou pouco durante esse tempo e tem hoje Eduardo Baldo na bateria, Benhur Lima no baixo, Diego Kasper e Abel Camargo nas guitarras, além de Iuri Sanson nos vocais.
Hibria: Benhur Lima, Abel Camargo, Iuri Sanson, Diego Kasper e Eduardo Baldo |
O Hibria pratica um heavy metal poderoso, que em certos momentos pode até ser classificado como thrash metal. Entretanto, os sites especializados em música estão classificando-os como power metal. A voz de Iuri Sanson é destaque e varia dos tons mais limpos para um vocal mais rasgado com facilidade. O disco foi produzido pelo guitarrista Diego Kasper e a mixagem foi realizada por William Putney, em Nova York. O baixo em “The Shelter’s On Fire” é metalizado e me lembrou de cara o baixo de Steve Harris na gravação de Maiden England (1989). Fiquei com o refrão dessa música na cabeça durante um tempão.
Hibria com o Metallica |
Após algumas audições – ainda não ouvi muitas vezes o disco, e mesmo assim senti que ele valeria um artigo – chamam atenção as músicas “Nonconforming Minds” e “Shoot Me Down”, essa última escolhida para ser o vídeo promocional do álbum. “I Feel No Bliss” é a mais calma, se é que podemos chamá-la assim, e talvez por isso ganhou uma interessante versão acústica que foi acrescentada como bonus track.
Depois de um tempo, você percebe que o álbum foi feito com bastante esmero. Riffs bem trabalhados, melodias bem encaixadas e bastante competência técnica é o que você encontrará durante todo o álbum. Ainda não ouvi os outros discos e pretendo fazê-lo o quanto antes. Procurando-os por aí, descobri que o primeiro, Defying the Rules, está esgotado e não há previsão de relançamento. Espero que Blind Ride repercuta bastante e obrigue esse relançamento. Porém, The Skull Collectors está no catálogo de uma dessas grandes lojas da internet. O Hibria foi uma agradável surpresa para mim e comprova que o metal daqui do país tem muito o que mostrar. O metal brasileiro vai sim cair nas graças de todos, mas pela sua qualidade e não por pena. Lembrem-se que, durante um período da década de 90, tivemos uma banda brasileira, o Sepultura, como uma das maiores do mundo no gênero.