Friday, September 16, 2011

Discografias Comentadas: Guns N' Roses


Hoje em dia o Guns N’ Roses é encarado por muitos como uma banda cover de luxo. Nesses últimos anos, suas turnês, se é que podemos chamá-las assim, são marcadas por incertezas quanto ao cumprimento de datas, cancelamentos, multas por atrasos exagerados e muita confusão. Claro que confusão é o que mais aconteceu mesmo nos anos de ouro do grupo. Axl Rose é conhecido mundialmente como encrenqueiro, e mesmo no Brasil já tivemos alguns chiliques históricos, como o episódio no qual uma cadeira foi arremessada contra jornalistas em 1991, na cidade de São Paulo.


Formação Recente do Guns N' Roses
Além dos problemas citados o GNR também carrega desconfiança no aspecto musical. Seus três ótimos guitarristas atuais são vistos com receio pelos fãs antigos que não enxergam em nenhum deles um ícone como Slash. O fato de possuir apenas um músico da formação original, o próprio Axl Rose, também não ajuda muito. Outro problema muito importante é a óbvia perda da capacidade vocal sofrida pelo líder. Quando comecei a ouvir a banda, lembro de ter ficado surpreso ao ouvir a sua voz natural, muito grave, totalmente diferente do seu estilo ao cantar. Imaginava o quanto Axl deveria forçar a garganta para cantar daquele jeito. Isso talvez explique um pouco o prejuízo vocal sofrido ao longo dos anos. Também não podemos esquecer que os excessos de longa data um dia seriam sentidos.


Formação Clássica da banda
Comecei o texto apontando todos os defeitos atuais do Guns N’ Roses para demonstrar quanto a imagem da banda está arranhada se compararmos com o final dos anos 80 e início dos anos 90, época de enorme sucesso, quando o grupo dominava o mundo da música. Basta lembrar-se da histórica turnê com o Metallica, que também estava em seu auge mercadológico com o lançamento de Metallica (1991). Mesmo com o quarteto no topo, o Guns N’ Roses foi o headliner da turnê, que tinha ainda o Faith No More.

Muitas bandas dos anos 70 fizeram a máxima “sexo, drogas e rock and roll” ser reconhecida. Mas o Guns N’ Roses é uma das que melhor fez tudo isso valer com enorme autoridade. Para conhecer mais detalhes a respeito da trajetória do grupo, confira nosso podcast a respeito do grupo, publicado algumas semanas atrás. Aliás, por que não ouvi-lo durante a leitura desta discografia comentada?

Appetite For Destruction [1987]

Fico imaginando quantas bandas em todo o mundo sonham em lançar um primeiro disco. Muita gente deposita todas as suas esperanças em canções que compuseram durante toda a juventude e acham que estão aptos a gravá-las. Muitas vezes a falta de experiência e a pouca grana faz com esses discos resultem em fracassos. É claro que não foi o que aconteceu aqui. Muito pelo contrário, já que Appetite For Desctruction vendeu mais de 25 milhões de cópias. Mesmo sendo relacionado às bandas de glam metal que estavam em ascensão na época, o GNR se destacava devido à urgência que emanava de seu som. Parecia que seus integrantes constituíam um bando de fugitivos, encontrados na rua e colocados dentro de um estúdio. Eles eram mais sujos e agressivos do que as outras bandas. Normalmente comentamos sobre os destaques dos discos, porém, são tantas músicas boas juntas que posso dizer que apenas “Anything Goes” é fraca. O nível das canções é muito alto, mas é claro que algumas tiveram mais destaque que outras, como as super conhecidas “Sweet Child O’ Mine” e “Paradise City”, que tocavam à exaustão nas rádios. O refrão de “Paradise City” é inconfundível. Interessante que muita gente diz que o riff principal de “Sweet Child O’ Mine” não é nada mais do que uma sequência de notas usada em exercícios de guitarra. Pode até ser, mas esse exercício tornou-se uma das linhas mais conhecidas de todos os tempos. Aliás, o trabalho das guitarras no álbum é fantástico, rico em excelentes bases e riffs executados por Izzy Stradlin, o principal compositor até então, temperados com os solos inspiradíssimos de Slash. “Welcome to the Jungle” e “Nightrain” são clássicos que exemplificam muito a urgência e agressividade citadas anteriormente. “It’s So Easy” é cantada por Axl em um tom mais grave, o que me fazia pensar que era outra pessoa que tomava o microfone na faixa quando comprei o álbum. Por se tratar de uma banda “de rua” os temas como drogas e violência não poderiam ser deixados de fora. Muitas dessas músicas falam sobre isso, em especial de drogas, como em “Mr. Brownstone”. O sucesso de Appetite For Destruction deu à banda a chance de tocar na edição de 1988 do então maior festival de rock do mundo, o Monsters of Rock, junto a Kiss e Iron Maiden. “Rocket Queen” é uma das minhas preferidas. No começo de minha vida musical eu costumava usar essa faixa para rebater os amigos que insistiam em dizer que o baixo não faz diferença nenhuma na música. Considero esse o principal disco da segunda metade dos anos 80. Ele foi o responsável pelo interesse de muitos pelo rock, e mudou a forma de como o gênero era encarado até então, abrindo caminho para que muitas outras bandas estourassem. Foi o segundo disco que comprei na minha vida.

G N’ R Lies [1988]

Com a banda atraindo cada vez mais atenção e sem ter um novo disco completo para ser lançado, sua gravadora, a fim de aproveitar mercadologicamente essa exposição, pegou o material de um EP, que havia sido gravado em 1986, Live ?!*@ Like a Suicide, e acrescentou quatro músicas que foram gravadas na forma acústica. O EP serviu para que a gravadora fizesse um teste em estúdio com os novatos, que na época era apenas uma banda de clubes. Teoricamente, trata-se da gravação de uma apresentação em um desses clubes. Porém, algum tempo depois, Axl Rose revelou que as músicas nada mais eram que a gravação de uma demo com a platéia em overdub. São quatro músicas, sendo dois bons covers “Nice Boys” (Rose Tattoo) e “Mama Kin” (Aerosmith); e duas músicas autorais: “Reckless Life” e “Move to the City”, essa última composta ainda nos tempos do Hollywood Rose, antiga banda que, juntamente com o L.A. Guns, foi o embrião do Guns N’ Roses. No lado B estão as quatro faixas acústicas: “You’re Crazy”, que já havia sido gravada em Appetite For Destruction, aqui mais lenta e adaptada aos violões; “One in a Million”, com uma tímida guitarra distorcida no acompanhamento, e “Used to Love Her”, que foi escrita, segundo o próprio Rose, para sua cachorrinha. Não poderia deixar de citar o megassucesso “Patience”, música que embalou muitos e muitos bailinhos na época. O assobio no início da canção é uma das melodias mais reconhecidas dentre aquelas que utilizam desse tipo de som. Sempre achei que Lies foi muito importante para a banda pois essas músicas mais sossegadas diluíram um pouco a sonoridade agressiva do primeiro disco, fazendo com que a imagem de “banda mais perigosa do mundo” fosse deixada um pouco para trás. Isso se deve, principalmente, pelo fato de “Patience” ter caído no gosto das mulheres. Claro que isso ajudou a afastar os marmanjos que não gostam muito de dividir as bandas de rock com as garotas. Inclusive, já escrevi um artigo na Consultoria do Rock a respeito desse assunto. Para lê-lo, clique aqui.

Use Your Illusion I [1991]

Não conheço na história alguma outra situação na qual uma banda tenha lançado dois álbuns de músicas autorais e inéditas simultaneamente. Por isso, é praticamente impossível comentar esse disco sem fazer uma comparação com a parte II. Podemos avaliar esses lançamentos de duas maneiras diferentes: uma evolução musical do grupo com arranjos e construções mais elaborados, ou uma clara demonstração de megalomania, principalmente por parte de Axl Rose. Muitos já disseram que o enorme sucesso do grupo com o primeiro álbum e também com o G N’ R Lies afetou a percepção de realidade do grupo. Axl Rose sentia que poderia se tornar um astro nos patamares de Freddie Mercury e Elton Jonh. Mesmo assim, no meu modo de ver, esse projeto ambicioso tocado pela banda foi muito bem executado, e o Guns N’ Roses cresceu de maneira sustentável. O grupo continuou registrando músicas agressivas, mas acrescentou outras facetas à sua sonoridade. Use Your Illusion I é mais hard rock que o segundo e traz maior participação de Izzy Stradlin, justificando em parte os motivos para que o guitarrista tivesse deixado a banda logo após a gravação dos álbuns. Músicas como “Right Next Door to Hell”, “Perfect Crime”, “Bad Obsession” e “Double Talkin’ Jive” são ótimos exemplo do que digo. “Dust n’ Bones” e “You Ain’t the First” têm claras influências de Aerosmith, enquanto “The Garden” traz um jeitão de rock sulista norte-americano. O que dizer da versão para “Live and Let Die” do grande Paul McCartney? Muitos odiaram, mas será que isso se deu porque a releitura ficou ruim mesmo ou devido ao pensamento de alguns puristas, que acham que uma banda como o GNR não pode profanar hinos sagrados? Os maiores sucessos de Use Your Illusion I foram “Don’t Cry” e “November Rain”. A primeira conseguiu captar a atenção de todos aqueles que já gostavam de “Patience”, enquanto a segunda é um ótimo exemplo da evolução e do acréscimo de novos elementos na música do Guns N’ Roses. O videoclipe é um clássico, e até hoje lembro-me da primeira vez que foi exibido no programa Fantástico. Só o fato de uma música de mais de nove minutos ter um clipe sendo exibido por completo em um programa desse porte mostra o quanto a banda era respeitada na época. Outra longa faixa é “Coma”, dotada de altos e baixos. Para completar: em 1990, o baterista Steven Adler havia deixado o grupo, dando lugar a Matt Sorum, ex-The Cult.

Use Your Illusion II [1991]

Use Your Illusion II é mais equilibrado que o primeiro, possuindo mais músicas de alto nível, apesar de contar com a horrível “My World” e a irregular “Locomotive”, que tem uma empolgante introdução de bateria, mas que não mantém a mesma energia ao longo de seus quase nove minutos. Confesso que hoje em dia não posso nem mais ouvir o cover para “Knocking on Heaven’s Door” (Bob Dylan) de tanto que ela era executada logo após o lançamento, mas se analisarmos bem, o grupo fez um bom trabalho. A versão alternativa de “Don’t Cry” poderia ser chamada de versão desnecessária, afinal, se alguém quer ouvi-la, é melhor escutar a do primeiro volume. Diz a lenda que Axl estava tão inspirado, que, à medida que a cantava, mais e mais palavras vinham à sua mente, por isso o grupo acabou registrando uma nova versão com letra distinta. “Get in the Ring” é outra muito criticada, principalmente por ser uma resposta, até certo ponto infantil, a alguns críticos musicais que ousaram fazer resenhas negativas a respeito do grupo. Axl Rose sentiu-se perseguido e quis soltar essa divertida provocação. Fora isso, só temos coisas boas. A sequência inicial com “Civil War”, “14 Years” e “Yesterdays” é para ouvir sem parar. Apesar da saturação radiofônica de “You Could Be Mine”, presente na trilha sonora do filme “O Exterminador do Futuro II”, ninguém pode dizer que não se trata de um clássico. A calma e triste “So Fine” é ótima para se ouvir sozinho, de preferência com uma bebida na mão. “Pretty Tied Up”, com seus muitos backing vocals, resgata o hard rock presente no primeiro volume. E o que dizer de “Estranged”, minha favorita do grupo? Muitas variações de andamento em mais uma música de longa duração, dando até um certo ar de rock progressivo para a faixa. As melodias criadas por Slash são fantásticas, fato que inclusive motivou um agradecimento especial no encarte do disco pelas “matadoras melodias de guitarra”. Muito do sucesso dos dois volumes de Use Your Illusion se deve ao fato de diversas músicas já terem sido executadas ao vivo antes mesmo de seus lançamentos. Para a gravação dos álbuns, outro componente foi acrescentado ao line-up, o tecladista Dizzy Reed, que continua com Axl até hoje.

"The Spaghetti Incident?" [1993]

Quando soube que o Guns N’ Roses lançaria um disco de covers, esperei versões para Rolling Stones e Aerosmith, mas surpreendentemente nenhuma música desses grupos foi incluída. Também esperava que a banda escolhesse covers na linha das músicas que entraram nos dois discos anteriores, mas o sexteto preferiu coisas mais diretas. Com a saída de Izzy Stradlin, Gilby Clarke assumiu a guitarra base na turnê para Use Your Illusion, e também se faz presente neste disco. Foram poucos os singles retirados de “The Spaghetti Incident?”, e apenas duas canções tocaram nas rádios. A escolha do track list foi muito abrangente, já que temos de Nazareth a The Misfits, de The New York Dolls a várias bandas mais punk e proto-punk. “Since I Don’t Have You” (The Skyliners), que abre o disco, foi a mais tocada nas rádios e fez um relativo sucesso. O trabalho vocal de Axl é muito bom, demonstrando uma potência vocal que faz falta hoje em dia. Interessante e surpreendente é notar o desprendimento do egocêntrico Axl Rose, que deixou Duff McKagan gravar alguns vocais principais em algumas músicas. Outra que tocou muito foi “Ain’t It Fun” (The Dead Boys). Slash também divide os vocais em uma faixa, o medley de “Buick Makane” e “Big Dumb Sex”, de T. Rex e Soundgarden, respectivamente. “Hair of the Dog” do já citado Nazareth teve uma boa releitura. No finalzinho dela ainda é executado o riff de “Day Tripper” dos Beatles, fechando em grande estilo. Para não ficar longe de polêmicas, foi incluída, meio escondida, uma música de Charles Manson, "Look at Your Game, Girl". Para quem não o conhece, Manson foi o assassino de Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski, junto a outras pessoas que encontravam-se na mansão do casal no dia do acontecimento. Charles foi o cabeça de uma seita religiosa que, entre muitas maluquices, dizia que os Beatles estavam mandando mensagens para eles por meio do famoso “álbum branco”. Inclusive, foi escrito “Helter Skelter” com o sangue das vítimas na parede da mansão, nome do primeiro heavy metal da história, registrado pelos rapazes de Liverpool. Sua inclusão não foi vista com bons olhos pela crítica musical, soando como uma simples provocação a fim de gerar controvésia. Entretanto, a música possui um certo charme. Destaque para uma frase encontrada no encarte do disco: “a great song can be found anywhere. Do yourself a favor and go find the originals” (“uma grande canção pode ser encontrada em qualquer lugar. Faça um favor a você mesmo e procure as originais”). Uma ótima iniciativa com o intuito de incentivar os mais preguiçosos e acomodados.

Chinese Democracy [2008]

Quinze anos se passaram com diversos boatos, músicas vazando, expectativas em excesso, mudanças de formação e muita grana sendo gasta. Esse foi o panorama das gravações desse álbum. O fato é que lá pelos idos de 2005 e 2006 o GNR já havia virado motivo de chacota e ninguém mais acreditava que o disco sairia. Mas quando ninguém mais esperava, eis que enfim foi lançado Chinese Democracy, título que já era conhecido havia muito tempo. Após a audição, as opiniões foram unânimes e a decepção foi geral. Isso se deve mais à enorme expectativa que foi gerada pela longa demora do que pela qualidade do disco em si. Só percebeu isso quem deu mais chances ao álbum e não ficou com a primeira impressão. Não considero esse disco melhor que nenhum anterior, mas talvez o coloque à frente de “The Spaghetti Incident?”. Quando escrevi, no início desta discografia comentada, que a voz de Axl Rose já não era mais a mesma, me referia às apresentações ao vivo, afinal, em Chinese Democracy ela está ótima. O estúdio é milagroso mesmo! Aliás, isso lembra que sua produção beira o exagero, com várias camadas distintas e o enorme acréscimo de pequenos detalhes. Tudo isso justifica o número de componentes da banda hoje em dia: oito músicos, Axl, um baixista, um baterista, três guitarristas e dois tecladistas. Uma multidão, porém necessária para executar todos os detalhes ao vivo. Você pode encontrar mais informações a respeito de Chinese Democracy, e até mesmo alguma polêmica, nessa resenha aqui.

Segundo algumas fontes, o grupo encontra-se em estúdio gravando um novo disco. Em se tratando de Guns N’ Roses, essa informação nunca pode ser levada tão a sério, e mesmo que seja verdade, não é garantia de que teremos um novo álbum em um futuro próximo. O que se espera é que Axl e cia. façam o melhor trabalho possível, e que nós, fãs, ao menos tenhamos mais material de qualidade para apreciar. Lembrando que o Guns N’ Roses será uma das atrações da quarta edição do festival Rock in Rio, tocando no dia 2 de outubro.

Saturday, August 06, 2011

Marillion - Misplaced Childhood [1985]


Por Fernando Bueno

Quando comecei a me interessar pelo rock progressivo, fui apresentado a algumas bandas que são consideradas hoje em dia como medalhões do estilo, caso de Pink Floyd, Yes, Emerson Lake and Palmer e Jethro Tull. Porém, o Marillion também apareceu para mim nessa época, e, durante um bom tempo, eu os colocava no mesmo patamar dos grupos citados, e achava que os fãs do estilo também respeitavam o grupo do mesmo jeito que eu, fato que se mostrou irreal. Com o tempo, fui descobrindo novos artistas e conhecendo melhor a história do estilo, e assim entendi melhor a posição do quinteto britânico no organograma do rock progressivo.

O Marillion foi tão importante para mim, que o primeiro disco de rock progressivo que adquiri foi esse que dá o tema para o artigo de hoje. Lançado em 1985, Misplaced Childhood é o terceiro álbum do grupo e constituiu o maior sucesso de sua carreira, tanto em termos musicais quanto comerciais. Liricamente, trata-se de um álbum conceitual idealizado pelo vocalista Fish, com diversas referências autobiográficas. Conta a história de um garoto que leva sua vida, apesar de amores perdidos, morte de um amigo muito próximo, angústia e depressão. Também há uma pequena semelhança com o enredo de The Wall (1979) do Pink Floyd, por trazer um personagem principal personificado como uma estrela, que tem de conviver não apenas com seus problemas pessoais, mas também com todas as outras dificuldades características da fama, como o isolamento forçado, o assédio excessivo, longas viagens... Aliás, a banda conseguiu algo que poucas conseguiriam em 1985, que foi a liberdade recebida pela gravadora para fazer um álbum desse tipo em uma época que pouquíssimos o faziam.


Marillion de Misplaced Childhood

Não sei se toda a banda tinha a mesma intenção de Fish a respeito do conceito por trás do álbum. A ideia do vocalista era a de que o disco tivesse apenas duas músicas, uma de cada lado do vinil. Tenho certeza que o músico só pensou assim pelo fato do vinil contar com essa característica. Caso tivesse lançado Misplaced Childhood em uma época na qual o formato CD já estivesse consolidado no mercado, é muito provável que Fish preferiria criar apenas uma música. Basta lembrar que, nos diversos shows após o lançamento desse álbum, o vocalista costumava anunciar para o público algo como: “agora tocaremos uma música chamada Misplaced Childhood”, e então o Marillion tocava o disco todo na íntegra. Claro que essa foi uma ideia não apoiada pela gravadora.

Além de Fish, a formação que gravou Misplaced Childhood contava com Steve Rothery na guitarra, Pete Trewavas no baixo, Mark Kelly no teclado e Ian Mosley na bateria. O interessante é que, após a saída de Fish e a subsequente entrada de Steve Hogarth em 1989, o line-up não mudou mais nenhuma vez nesses mais de 20 anos, o que é bastante raro e explica a afinidade musical que a banda apresenta hoje em dia. Basta assistir algum de seus DVDs para notar essa característica.

Capa do single Kayleigh
O álbum inicia com teclados produzindo uma atmosfera triste e sombria para “Pseudo Silk Kimono”, que acompanha a voz de contador de histórias utilizada por Fish. Sem pausa, entramos em “Kayleigh”, maior sucesso comercial da banda, single que ficou entre os primeiros das paradas da época e o perfeito exemplo de como o rock progressivo pode ser acessível para todos. Dedilhados inconfundíveis, melodias fáceis de assimilar e uma bela interpretação, que é o forte de Fish. A versão do single é um pouco mais longa do que a que entrou no disco. Na verdade, trata-se de uma adaptação, que era apenas uma passagem de uma longa música, em uma canção com formato ideal para as rádios. Impossível existir alguém com cerca de 30 anos que ainda não ouviu essa canção. O nome “Kayleigh” foi uma adaptação de Fish para “Kay Lee”, uma garota conhecida por ele em sua adolescência.

Capa do single Lavender
“Lavender”, a exemplo de “Kayleigh”, entra sem deixar espaços e também tornou-se um single de sucesso. Fish brinca com as palavras utilizando seus “dilly, dilly”, e também com a grafia e a sonoridade das letras I, O e U (“I owe you”).

Se a gravadora não permitiu que o disco fosse constituído de apenas uma longa faixa, o Marillion acabou incluindo pequenas suítes em seu track list, como “Bitter Suite”, que é dividida em cinco pequenas passagens. Mais uma vez podemos notar o quanto Fish era um grande intérprete, conseguindo colocar sentimento em cada palavra e transmitir a emoção desejada para que o ouvinte compreenda o enredo. O trecho no qual ele mistura inglês com francês, enquanto narra o encontro de seu personagem com uma prostituta, seguido pela linda melodia de guitarra feita por Rothery, é de arrepiar.

Muito se fala que o Marillion não é mais que uma cópia do Genesis. Nunca dei muita bola para esse tipo de comentário. Até porque não vejo nada de mais em um músico demonstrar as influências e inspirações que recebeu. Entretanto, o Marillion demonstra que não foi influenciado apenas pelo Genesis: pelo menos nas passagens de guitarra, identifico mais elementos utilizados por David Gilmour (Pink Floyd) e Andrew Latimer (Camel) do que por Steve Hacket, guitarrista do Genesis.

Capa do single Heart of Lothian
O trecho final de “Bitter Suite”, chamado “Windswept Thumb”, conecta-se com a música seguinte, “Heart of Lothian”, que também é dividida em duas partes. Acabou tornando-se um single, assim como “Kayleigh” e “Lavender”, mas de menos sucesso que os citados. Também recebeu um engraçado videoclipe que, não por acaso, inicia-se com a parte final da música anterior, tamanha é a ligação que as faixas têm. No vídeo, Fish está andando pela cidade, pedindo carona para ir até um pub onde o Marillion tocará. O grupo, que já está no local, é dispensado, já que o dono do bar contratou cinco e não quatro pessoas para se apresentar. Após isso, diversos eventos e pequenos acidentes vão ocorrendo em sequência, até o carro da banda encontrar o componente atrasado. “Hearth of Lothian” contém uma de minhas passagens preferidas de Misplaced Childhood, na qual Rothery não para de solar enquanto Fish canta.

Na sequência temos “Waterhole (Expresso Bongo)”, com um andamento de baixo e bateria muito interessante e diferente do resto do álbum. Novamente, seu final conecta-se com a faixa seguite, a curta “Lords of the Backstage”. Mesmo com pouco tempo, o Marillion consegue passar diversas camadas musicais, demonstrando a qualidade e a criatividade do grupo. Após isso, temos mais uma suíte de cinco trechos, “Blind Curve”. Com uma introdução que lembra um pouco “Confortably Numb”, do ... bem ... você sabe quem. Pelo menos posso dizer que o clima melancólico e depressivo é o mesmo. Outra vez, diversas passagens de guitarra, com a sonoridade característica de Rothery remetendo a Gilmour e Latimer.

Fish com sua caracterização a la Peter Gabriel
Depois da melancolia de “Blind Curve” surge “Childhood End?”, que começa a alegrar novamente o ambiente. Afinal, o personagem encontra novamente a garota que não via há muitos anos, percebendo que a infância não acaba depois de adulto, e que os sentimentos da adolescência também podem ser vividos quando mantemos nossa mente jovem. Desse modo, e com a faixa de encerramento, “White Feather”, o álbum acaba em um surpreendente clima de felicidade.

Trata-se de um daqueles álbuns do tipo que não consigo escutar apenas algumas faixas. E quando coloco-o para ouvir, gosto de entrar no clima do disco, prestar atenção em todos os detalhes, mesmo os mais sutis, que só quem já o ouviu milhares de vezes percebe. Exceto pelas que se tornaram singles de sucesso, nenhuma das músicas se destaca sozinha, é o conjunto de todas as faixas que torna o álbum forte. Certamente, Misplaced Childhood está entre os que mais ouvi na vida. Até minha esposa, Cristiane, já deve conhecer esse disco do começo ao fim.

Os quatro discos da era Fish lançados pelo Marillion são extremamente recomendados para quem gosta de rock progressivo com pitadas mais pop. Além desse, os outros são: Script for a Jester’s Tear (1983), Fugazi (1984) e Clutching at Straws (1987). Claro que os fãs também poderão citar Brave e Marbles, lançados, respectivamente, em 1994 e 2004, já com Steve Hogarth nos vocais. Também são grandes álbuns, mas ainda indico os quatro primeiros, que são ótimos discos para que os fãs de um hard rock mais melódico adentrem nas maravilhas do mundo progressivo.

Track List:
1. Pseudo Silk Kimono
2. Kayleigh
3. Lavender
4. Bitter Suite: Brief Encounter/Lost Weekend/Blue Angel/Misplaced Rendezvous/Windswept Thumb
5. Heart of Lothian: Wide Boy/Curtain Call
6. Waterhole (Expresso Bongo)
7. Lords of the Backstage
8. Blind Curve: Vocal Under a Bloodlight/Passing Strangers/Mylo/Perimeter Walk/Threshold
9. Childhood's End?
10. White Feather

Tuesday, July 19, 2011

Álbuns Tributos: talento x oportunismo

 

As regravações de músicas de outros artistas e compositores é normal desde que o rock é rock e ajudaram muitos grupos a preencher álbuns que tinham pressa em ser lançados. Desde o início dessa prática há a discussão a respeito de qual é a melhor versão e se determinada regravação supera a original. Puristas nunca admitem a possibilidade de que algum artista, ao regravar as canções de seus músicos preferidos, superem a versão original. Essa é uma discussão que vai longe.

Em um determinado dia, alguém achou que a idéia de juntar versões de diversas músicas de um mesmo artista em um único disco seria muito boa, e assim nasceram os álbuns tributo. Não tenho certeza de qual foi o primeiro lançamento desse tipo, mas foi na década de 90 que esse fenômeno cresceu vertiginosamente, chegando ao ponto de, hoje em dia, ser possível que algumas bandas de média relevância já tenham um álbum tributo dedicado à sua música. Diversas pessoas vêem esses lançamentos como puro oportunismo e uma maneira de projetar a carreira de bandas novas. Tenho certeza de que muitos não passam disso mesmo, mas, em contrapartida, alguns foram feitos por artistas que já eram consagrados na época das gravações, emprestando um caráter sincero ao tributo.

Não vejo qual seria outro interesse ao juntar bandas totalmente desconhecidas em um álbum assim. Para ouvir bandas cover desconhecidas basta irmos a um bar. O que chama atenção para discos desse tipo é ouvir um artista relevante mostrando quem é relevante para ele. Saber que aquele cara que toca algo totalmente diferente também gosta e foi influenciado por determinada banda. É a hora na qual observamos a faceta de fã em nossos ídolos. Uma das outras coisas legais nesses discos é ouvir bandas totalmente diferentes entre si reunidas num mesmo álbum. Também é interessante notar quando um artista executa uma versão na qual imprime sua personalidade a canções de outros músicos. Isso mostra que, por mais que hoje existam diversos subestilos no hard rock e no heavy metal, o ponto de partida foi sempre o mesmo.

Apresentarei aqui alguns álbuns tributo relevantes, que mostram que a idéia de homenagear alguns artistas é muito válida, e que essas homenagens, quando feitas com critério, valem muito a pena.



Kiss My Ass: Classic Kiss Regrooved [1994]

Esse foi o primeiro disco tributo com o qual tive contato, e também é um dos mais lembrados. Com um cast de artistas bem díspares, somos brindados com excelentes interpretações e algumas nem tanto. Lançado no aniversário de 20 anos do primeiro álbum do Kiss, o álbum abre com uma ótima versão de “Deuce” feita por Lenny Kravitz, que se não é unanimidade entre os fãs de rock, deve ser respeitado por ser um músico talentoso. Outro nome que causou revolta na época por ter sido incluído foi o do cantor Garth Brooks, contudo, todos tiveram que engolir em seco sua ira após ouvir “Hard Luck Woman” com um jeitão country. É o rock devolvendo ao country sua influência dos primórdios.

Temos também ótimas regravações de “She” (Anthrax), “Goin’ Blind” (Dinosaur Jr.) e “Plaster Caster” (The Lemonheads). Destaque negativo para “Rock and Roll All Nite”, cometida pela banda Toad the Wet Sprocket. Tudo bem que é legal o fato de que a interpretação seja pessoal, mas esta música é relacionada com festa e diversão, e o que o Toad fez foi dar um clima de velório para a canção. Também achei que o compositor japonês Yoshiki poderia ter feito algo melhor com sua versão orquestrada de “Black Diamond”. A interpretação do Extreme para “Strutter” é bem diferente, cheia de citações a outras músicas em seu andamento.

A edição norte-americana conta com uma faixa a mais que a mundial, uma versão em alemão para “Unholy” gravada pela banda punk Die Ärzte. Uma curiosidade fica em relação à capa. A bandeira dos Estados Unidos está presente em todas as edições, menos no Canadá, Japão e Austrália, que possuem lançamentos com a bandeira local em destaque na capa. Outro detalhe é a maquiagem do garoto da capa que deveria ser igual à de Ace Frehley, fato que não aconteceu por questões contratuais. Foi lançado também um DVD com imagens das gravações e entrevistas. Em uma delas, Paul Stanley afirma que esse tipo de homenagem é muito melhor se feita enquanto o artista ainda está na ativa, e não andando de cadeira de rodas, isso há mais de 15 anos!

Track list:
1. Deuce - Lenny Kravitz (com Stevie Wonder na gaita)
2. Hard Luck Woman - Garth Brooks (com o Kiss)
3. She - Anthrax
4. Christine Sixteen - Gin Blossoms
5. Rock and Roll All Nite - Toad the Wet Sprocket
6. Calling Dr. Love - Shandi's Addiction (Maynard James Keenan, Billy Gould, Tom Morello and Brad Wilk)
7. Goin' Blind - Dinosaur Jr
8. Strutter - Extreme
9. Plaster Caster - The Lemonheads
10. Detroit Rock City - The Mighty Mighty Bosstones
11. Black Diamond - Yoshiki
12. Unholy - Die Ärzte



Nativity in Black: A Tribute to Black Sabbath [1994]

Muitos criticam esse lançamento pelo fato de não conter nenhuma música que não faça parte da era na qual Ozzy Osbourne foi vocalista do grupo. Porém, temos que lembrar do contexto histórico em que ela foi lançada. No ano anterior, Ozzy Osboune havia lançado um disco ao vivo com a sua banda, Live & Loud, incluindo uma participação dos integrantes originais do Black Sabbath, o que gerou muita expectativa em relação ao um possível retorno, e nada melhor do que privilegiar essa fase da carreira da banda em uma homenagem assim.

Diferentemente do tributo ao Kiss, onde existem alguns deslizes na escolha ou na execução das faixas, esse é quase perfeito. Digo “quase” pois a inclusão de “War Pigs”, registrada ao vivo pelo Faith No More, já era conhecida na época, o que causou uma pequena decepção. A escolha das bandas foi perfeita. Mesmo o 1000 Homo DJs, com Al Jourgensen (Ministry) no vocal, representando as bandas da vertente industrial, fez uma versão matadora para "Supernaut". Também causa estranheza para alguns o nome Bullring Brummies. Entretanto, essa foi uma banda formada exclusivamente para gravar “The Wizard”, que tinha entre seus componentes Geezer Butler, Bill Ward e Rob Halford.

A qualidade das faixas está nas nuvens, porém, gostaria de destacar “Symptom of the Universe”, feita pelo Sepultura, que na época estava em seu auge. Já disse muitas vezes que esse é um exemplo de quando um cover fica melhor que a versão original, e podem chover reclamações! O Type O Negative também faz de “Black Sabbath” uma das coisas mais sombrias da história da música, ressaltando essa característica já presente na original. O que dizer de “Sabbath Bloody Sabbath” executada pela parceria de Bruce Dickinson com o Godspeed? E de “N.I.B.”, tocada pelo criticado e “bobinho” Ugly Kid Joe?

Volumes II e III
lançados anos depois
Anos depois foram lançados mais dois volumes do tributo, mas sem a mesma repercussão do primeiro. Muita gente nem sabe disso. O segundo, lançado em 2000, contém uma versão para “Electric Funeral” feita pelo Pantera que só não entrou no primeiro volume por questões contratuais. Uma terceira edição foi lançada em 2010, contando com participações de Anthrax, Soundgarden e Soulfy, entre outros. Ozzy Osboune e outros ex-componentes do Sabbath, exceto Iommi, participam de algumas faixas como convidados. Acredito ser totalmente desnecessário que o homenageado participe de um tributo desse tipo, mas em todas as faixas em que isso aconteceu, o resultado final valeu a pena.

Track list:
1. After Forever - Biohazard
2. Children of the Grave - White Zombie
3. Paranoid - Megadeth
4. Supernaut - 1.000 Homo DJ's
5. Iron Man - Ozzy Osbourne e Therapy?
6. Lord of this World - Corrosion of Conformity
7. Sympton of the Universe - Sepultura
8. The Wizard - Bullring Brummies
9. Sabbath Bloody Sabbath - Bruce Dickinson e Godspeed
10. N.I.B - Ugly Kid Joe
11. War Pigs - Faith no More
12. Black Sabbath - Type O Negative
13. Solitude - Cathedral



A Tribute to Judas Priest: Legends of Metal Volumes I e II [1997]

Conheço muita gente que tomou conhecimento do Judas Priest por causa desse disco. Essa é outra boa característica dos álbuns que estão sendo abordados nessa matéria. É sabido que o final dos anos 90 foi uma época de proliferação do metal melódico, e o estilo tinha muitos fãs. Porém, a grande maioria era de uma faixa etária mais baixa, que não conhecia muitos dos medalhões do metal. Os fãs de Stratovarius, Gamma Ray, Angra, Helloween e de outros do gênero foram atrás desse tributo pelo fato de que suas bandas preferidas estavam contribuindo e acabaram conhecendo um dos pilares do heavy metal.

Os dois volumes são obrigatórios, sendo o Volume II, na minha opinião, um pouco superior ao primeiro. Apenas não entendi o porquê de Mercyful Fate e Iced Earth participarem com a mesma música, “The Ripper”. O catálogo do Judas Priest é extenso o suficiente para que isso não seja necessário. “Beyond the Realms of Death”, um dos maiores clássicos do Judas Priest, ficou maravilhoso na execução do Blind Guardian. Uma curiosidade fica pela participação do Gamma Ray. Na época, o vocalista original Ralf Scheepers já havia saido da banda. Assim, o Gamma Ray fez duas músicas para o tributo, “Victim of Changes” para o primeiro volume, com Kai Hansen já assumindo o posto que dura até hoje de vocalista da banda e “Exciter” para o segundo volume, onde que eles apresentam Ralf Scheepers. Na ocasião, o Judas Priest também estava sem vocalista, e Scheepers era a principal aposta de muita gente para assumir o posto. Muitos, inclusive, dizem que ele saiu do Gamma Ray por achar que seria chamado para o Priest, e essa versão para “Exciter” seria seu cartão de visitas na nova banda. No final das contas, Ralf não foi escolhido, e acabou formando o Primal Fear.

Fora isso, é muito interessante ver bandas como Overkill e Kreator executando versões de músicas do Judas Priest com uma identidade própria tão marcante. Isso mostra muito o quanto essas bandas homenageadas são influências importantes para o metal em geral, não importando a vertente. Lembro-me de ficar ansioso para ouvir “Painkiller” com o Angra. Confesso que fiquei um pouco desapontado, já que esperava que o André Matos cantasse com um pouco mais de raiva. “Love Bites” com o Nevermore ficou arrastada e muito pesada. Só a parte final do vocal já vale a música toda. Outro destaque é “The Hellion/ Electric Eye” com os alemães do Helloween. Caso vocês se interessem por esses discos tomem cuidado, pois chegou a ser lançada uma compilação com músicas dos dois volumes em apenas um CD. Claro que muitas músicas ficaram de fora, entre elas muitos dos destaques citados aqui.

Compilação meia-boca
dos dois volumes
Track list:

Volume I
1. The Hellion / Electric Eye - Helloween
2. Saints In Hell - Fates Warning
3. Victim of Changes - Gamma Ray
4. Sinner - Devin Townsend
5. The Ripper - Merciful Fate
6. Jawbreaker - Rage
7. Night Crawler - Radakka
8. Burnin' Up - Doom Squad
9. A Touch Of Evil - Lions Share
10. Rapid Fire - Testament
11. Metal Gods - U.D.O.
12. You've Got Another Thing Comin' - Saxon

Volume II
1. The Ripper - Iced Earth
2. Beyond the Realms of Death - Blind Guardian
3. The Sentinel - Heaven’s Gate
4. Love Bites - Nevermore
5. Exciter - Gamma Ray (com Ralf Scheepers)
6. Dissident Aggressor - Forbidden
7. Painkiller - Angra
8. Tyrant - Overkill
9. Grinder - Kreator
10. Dreamer Deceiver - Skyclad
11. Bloodstone - Stratovarius
12. Screaming for Vengeance - Virgin Steele
13. Night Comes Down - Leviathan

Tuesday, June 21, 2011

Hibria - Blind Ride [2011]


No final do ano passado foi veiculada pela imprensa especializada uma carta aberta do vocalista de uma banda conhecida no cenário brasileiro, direcionada ao público heavy metal deste país. Nessa carta, o artista enumerava os motivos que encontrou para justificar a falta de apoio que as bandas do gênero recebem dos fãs brasileiros e fazia um apelo por maior reconhecimento. Muita gente achou que os argumentos eram pertinentes e muitos deles são reais. Porém, diversas pessoas execraram a atitude do músico, e a carta acabou se tornando motivo de todo tipo de chacota e classificada como um tratado de puro “mimimi”.

Ao ouvir o álbum recém lançado do grupo Hibria, Blind Ride, essa carta me veio à cabeça. Isso aconteceu porque o disco é nada menos que excelente e, para mim, o lançamento desse disco é milhares de vezes melhor na finalidade de ajudar o metal brasileiro a ser mais reconhecido do que uma carta de lamentação.

A banda foi formada em meados da década de 90 em Porto Alegre e, durante esses mais de 15 anos na ativa, já lançou três discos: Defying the Rules (2004), The Skull Collectors (2008) e Blind Ride (2011). A sua formação variou pouco durante esse tempo e tem hoje Eduardo Baldo na bateria, Benhur Lima no baixo, Diego Kasper e Abel Camargo nas guitarras, além de Iuri Sanson nos vocais.

Hibria: Benhur Lima, Abel Camargo, Iuri Sanson, Diego Kasper e Eduardo Baldo
Confesso que adquiri o disco sem muita expectativa e o fiz somente por saber das oportunidades que o grupo teve como atração de abertura de shows internacionais nesses últimos tempos, caso do Metallica, em Porto Alegre (2010), e Ozzy Osbourne no Rio de Janeiro e Belo Horizonte (2011). Pensei, se a banda conquistou essas oportunidades é porque possui qualidade. O quinteto também tocou no maior festival japonês do gênero, o Loud Park, em 2009, e teve seu álbum, The Skull Collectors, no topo da lista dos mais vendidos em uma cadeia de lojas do país, além de ter sido lembrado nas votações de melhores daquele ano na famosíssima revista Burrn!.

O Hibria pratica um heavy metal poderoso, que em certos momentos pode até ser classificado como thrash metal. Entretanto, os sites especializados em música estão classificando-os como power metal. A voz de Iuri Sanson é destaque e varia dos tons mais limpos para um vocal mais rasgado com facilidade. O disco foi produzido pelo guitarrista Diego Kasper e a mixagem foi realizada por William Putney, em Nova York. O baixo em “The Shelter’s On Fire” é metalizado e me lembrou de cara o baixo de Steve Harris na gravação de Maiden England (1989). Fiquei com o refrão dessa música na cabeça durante um tempão.


Hibria com o Metallica
Após algumas audições – ainda não ouvi muitas vezes o disco, e mesmo assim senti que ele valeria um artigo – chamam atenção as músicas “Nonconforming Minds” e “Shoot Me Down”, essa última escolhida para ser o vídeo promocional do álbum. “I Feel No Bliss” é a mais calma, se é que podemos chamá-la assim, e talvez por isso ganhou uma interessante versão acústica que foi acrescentada como bonus track.

Depois de um tempo, você percebe que o álbum foi feito com bastante esmero. Riffs bem trabalhados, melodias bem encaixadas e bastante competência técnica é o que você encontrará durante todo o álbum. Ainda não ouvi os outros discos e pretendo fazê-lo o quanto antes. Procurando-os por aí, descobri que o primeiro, Defying the Rules, está esgotado e não há previsão de relançamento. Espero que Blind Ride repercuta bastante e obrigue esse relançamento. Porém, The Skull Collectors está no catálogo de uma dessas grandes lojas da internet. O Hibria foi uma agradável surpresa para mim e comprova que o metal daqui do país tem muito o que mostrar. O metal brasileiro vai sim cair nas graças de todos, mas pela sua qualidade e não por pena. Lembrem-se que, durante um período da década de 90, tivemos uma banda brasileira, o Sepultura, como uma das maiores do mundo no gênero.

Wednesday, June 15, 2011

Kamelot – Poetry for the Poisoned [2010]



No fim dos anos 90 minha única fonte de informações era a revista Rock Brigade, que recebia mensalmente por ser assinante. Fui leitor assíduo durante cerca de oito ou nove anos. Após isso, passei a comprá-la esporadicamente, quando sobrava alguma grana (época de faculdade é dura). Na virada do século, a onda do metal melódico era muito forte na revista e todo mês havia altas notas para discos lançados por bandas do estilo, fossem elas conhecidas ou novatas. As notas altas para os discos, as entrevistas, os anúncios de CDs e tudo o mais acabava criando uma obrigação para que eu conhecesse todas aquelas bandas. Porém, depois que entrava em contato com seu som, percebia que muitas não apresentavam nada de novo. Essa época também foi o início do meu aprofundamento no rock progressivo, o que ajudou a fazer com que eu perdesse o interesse nesse subgênero do metal.

Na época, cheguei a escutar algumas músicas isoladas do Kamelot e acabei não me interessando. Não sei se tive azar e acabei escutando as músicas mais fracas dos discos, mas foi a primeira impressão. Lembrando que aquele era o tempo dos programas de compartilhamento de arquivos Soulseek e Kazaa, e baixar um álbum inteiro só valia a pena se você tivesse gostado realmente das músicas que ouviu. Comprar discos nessa época era raro. Só comprava mesmo das bandas que eu era fã incondicional.

A maior parte daquela safra de bandas acabou se perdendo pelo caminho, outras mudaram um pouco seu direcionamento musical e outras se mantiveram porque faziam algo de qualidade. De um tempo para cá voltei a me interessar por alguns grupos que sempre estão presentes nas discussões, os quais não tinha o costume de ouvir devido a todos os motivos já apresentados. Pensei: se até hoje falam da banda, é porque alguma coisa boa deve ter. E esse foi o caso do Kamelot, que em setembro de 2010 nos apresentou Poetry for the Poisoned.



Logo de início temos “The Great Pandemonium”, que junto com a canção que fecha o álbum, “Once Upon a Time”, são as músicas de maiores destaque. Roy Khan foi um estudante de ópera e talvez por isso consiga se entregar à música e realmente interpretá-la, modificando sua voz de acordo com o que a música pede. Também temos nele um exemplo de que grandes vocalistas não precisam, necessariamente, cantar em tons lá nas nuvens.

O som do álbum também chama atenção. Produção muito bem feita, timbres bem escolhidos, tudo certinho, bem pensado e executado. Pesado e melancólico podem ser os adjetivos que descrevem o álbum, e muito disso se deve aos sons e melodias criadas pelo bom guitarrista Thomas Youngblood. O instrumental, sem nenhum exagero característico do estilo, tem bom gosto e criatividade. Da mesma maneira que Khan faz com a voz, o instrumental também joga para o time.

Achei desnecessária a divisão da faixa título em quatro partes. Até parece que os fãs da banda já não estão acostumados com músicas mais longas. Até porque cada parte da música escutada separada soa totalmente sem sentido. Apesar de tudo, para mim acaba não mudando nada, já que tenho o costume de sempre escutar os discos inteiros e na ordem.

Confesso que, antes mesmo de ouvir esse disco, fiquei com um pouco de má vontade devido à quantidade de convidados especiais. Como ainda não havia escutado, achei exagerado e imaginei que o Kamelot queria apenas fazer média com músicos e fãs de outros estilos. Esse desconforto aumentou quando lembrei que Roy Khan saiu da banda pouco tempo depois do lançamento do álbum. Cheguei até a pensar que a quantidade de participações tinha a ver com a previsão da saída do vocalista, que foi substituído por Fabio Lione na última turnê, que inclusive passou pelo Brasil. Entretanto, depois de ouvir o álbum mudei de opinião, e acredito que os convidados tenham sido aproveitados muito bem, com coerência e totalmente dentro do contexto de cada música. Os duetos de Roy Khan com Simone Simons, vocalista da banda Epica, em “House on a Hill” e na faixa título são alguns dos melhores elementos do disco. Como curiosidade é interessante citar que o nome Epica foi usado pelo Kamelot para batizar seu sétimo disco de estúdio em 2003.

O Kamelot mostra com Poetry for the Poisoned que temos que continuar a busca por conhecer boas bandas e dar chances para outras, mesmo que elas não tenham começado tão bem assim.

Monday, June 06, 2011

Aerosmith - Rocks [1976]


Quando falamos no nome Aerosmith hoje em dia logo vem às nossas cabeças a imagem de Steven Tyler cantando uma das inúmeras baladas mela-cueca que foram gravadas pela banda nesses últimos vinte anos. É inegável que essas baladas sejam as responsáveis pela popularidade do quinteto, principalmente aqui no Brasil depois de Get a Grip [1993] e também após o lançamento da coletânea Big Ones, de 1994. Muita gente, inclusive eu mesmo, apenas ficou sabendo da existência da banda após o lançamento desses dois discos. Essa coletânea, que foi uma das mais vendidas de todos os tempos, foi composta praticamente apenas com as músicas de seus, até então, últimos três álbuns: Permanent Vacation [1987], Pump [1989] e o já citado Get a Grip. Claro que estou falando da sua edição normal, já que houve um lançamento especial com um segundo disco que era mais abrangente em relação à carreira do grupo. Desse modo, para quem conheceu a banda naquela época, a impressão que dava era que o grupo era relativamente novo.

Aerosmith em 1976

Com o enorme sucesso das canções “Crying” e “Crazy” do álbum Get a Grip, a banda percebeu que o nicho das baladas era rentável e baseou a seqüência de sua carreira nesse tipo de música. Outras bandas na época fizeram o mesmo, como é o caso do Bon Jovi. Já disse em uma matéria sobre as baladas que o fato das canções mais românticas normalmente cairem no gosto das garotas fazia que os rapazes se afastassem desse tipo de música. E o mesmo aconteceu comigo. Sempre adorei os discos já citados, mas acabei perdendo o interesse em conhecer o resto da carreira da banda, mesmo depois de saber que eles não eram mais um fruto da década de 80 e sim de muito tempo atrás, lá da prolífica década de 70.

Steven Tyler na época de Rocks
O Aerosmith é citado como influência de dez entre dez bandas que fazem todos os sub-estilos do que se convencionou a se chamar hard rock. Bandas como Guns N’ Roses e Skid Row nunca esconderam sua admiração pela banda e o próprio Slash sempre se apresentou com um visual muito parecido ao de Joe Perry.

Uma das coisas que mais impressiona quando nos aprofundamos na carreira da banda é que essa é uma das únicas que mantém a formação original desde o primeiro disco em 1973. Porém, é preciso citar o disco Rock in a Hard Place, de 1982, que foi o único sem os dois guitarristas Joe Perry e Brad Whitford. A saber, completam a banda o baixista Tom Hamilton e o baterista Joey Kramer, além, é claro, do jurado cheio de botox do American Idol, o super astro Steven Tyler.


Os jurados da última edição do American Idol com Jennifer Lopez e Steven Tyler
Para quem já conhece o álbum Rocks, lançado em 1976, sabe tudo o que será dito aqui nessas próximas linhas. É o quarto disco de estúdio do Aerosmith, ganhou vários discos de platina e foi sequência de um álbum que também teve muito sucesso, Toys in the Attic [1975]. Muitas vezes estive na iminência de adquirir esse álbum, mas, como falei acima, não tinha muitas esperanças de que ele fosse bom. Até porque freqüentemente o encontrava com preços promocionais, o que de certa forma mostra que o interesse do público em geral também não era muito grande, e isso aumentava a minha desconfiança. Claro que existem inúmeros exemplos para contrariar esse tipo de pensamento, mas foi o que aconteceu. No entanto, depois que ouvi o disco, mudei meu pensamento e também meu interesse em relação à banda.

Joe Perry

"We were doing a lot of
drugs by then, but you
can hear that whatever
we were doing, it was
still working for us."
(Joe Perry)
Depois de um tempão sem ouvir Rocks, voltei a retirá-lo da prateleira após o lançamento do livro Eddie Trunk’s Essential Hard Rock and Heavy Metal. Para quem não ligou o nome à pessoa, Eddie Trunk é apresentador de uma rádio americana e também apresenta o programa That Metal Show, veiculado pela VH1. Também li sobre o álbum na edição especial da Roadie Crew que lista 200 hinos do Heavy Metal e do Classic Rock, editada por Bento Araújo, da revista Poeira Zine. Nessa última publicação, Bento Araújo inclui “Lick and a Promisse” entre os 200 maiores hinos e comenta que o guitarrista Slash sempre alega que Rocks é sua cartilha musical. Já Eddie Trunk coloca o disco, junto com Toys in the Attic, como os melhores discos da banda. Devido à minha memória afetiva, não tenho como considerá-los dessa forma, mas é inegável que esses são excelentes discos, dignos de figurar na prateleira de qualquer amante de rock.

O álbum inicia com “Back in the Saddle”, que apresenta uma voz raivosa de Steven Tyler além de Joe Perry tocando um baixo de seis cordas. É curiosa essa troca de funções nesse que é talvez o álbum mais experimental do Aerosmith, já que Tom Hamilton toca a guitarra e Perry faz as vezes de baixista em “Sick As a Dog”. Para corroborar essa questão da experimentação também é preciso citar o uso de loops de fitas em “Rats in the Cellar”. Há também o vocal de Joe Perry acompanhando durante a música toda em “Combination”. Ao vivo existem vídeos de Perry cantando sozinho a canção inclusive com Steven Tyler nas baquetas.

Anúncio oficial de Rocks que saiu em
jornais e revistas da época
Last Child” traz um riff memorável e apresenta um groove certamente muito influenciado pelo funk que era enorme sucesso na época. Whitford também toca um ótimo solo nessa faixa, contrariando a idéia dele ser apenas um guitarrista base. Talvez o maior destaque do disco seja “Nobody’s Fault” que é uma das mais pesadas músicas da carreira do quinteto e já foi regravada por muitas outras bandas (Testament, Vince Neil e L.A. Guns). Joey Kramer diz que essa música é o melhor trabalho de bateria que ele fez na carreira.

O álbum como um todo é enérgico e principalmente bem cru. Sinto falta de um pouco mais de peso para realçar algumas músicas, mas temos que lembrar que o que o Aerosmith fazia era na linha dos Stones e Yardbirds, que não tinham o peso como uma de suas principais caraterísticas. Imaginem “Last Child” com timbres de baixo e guitarra mais pesados. Seria ótimo!

Foi na época de Rocks que a dupla Tyler/Perry ganhou a alcunha de Toxic Twins devido ao enorme consumo de drogas. Esse álbum deve ser ouvido com carinho. Para os que, como eu, têm uma certa aversão pelo Aerosmith devido ao excesso de mel dos últimos anos, digo que vale a pena dar uma chance à carreira setentista da banda. Para os que já o conhecem, mas não o consideram um bom álbum, peço para dar mais uma chance. E para aqueles que já gostam do disco, esse texto serve como um estímulo para ouvi-lo de novo.


Monday, May 16, 2011

Discografia Comentada: Grim Reaper


Por Fernando Bueno

Formado na Inglaterra em 1979 pelo guitarrista Nick Bowcott, o Grim Reaper é, hoje em dia, injusta e praticamente desconhecido, juntando-se à categoria das bandas que mereciam melhor sorte. Após uma grande sequência de mudanças em sua formação, o grupo se estabeleceu com Steve Grimmett (egresso do Chateaux), na voz e Dave Wanklin no baixo. A bateria continuou sendo um problema, dado que vários músicos ocuparam essa posição no quarteto.

Nick Bowcott
Apesar de sua origem datar de 1979 e de ser caracterizado como integrante da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), o Grim Reaper gravou seu primeiro disco apenas em 1983, quando as grandes bandas do movimento já tinham sucesso estabelecido. Talvez isso tenha influenciado no fato do grupo ser pouco lembrado hoje em dia, tendo em vista que a concorrência era muito grande, em especial vinda de bandas como Iron Maiden, Saxon e Def Leppard, que polarizavam a cena. Seu contrato com a Ebony Records foi conseguido depois de terem vencido um concurso chamado Battle of the Bands, em que participavam cem bandas.

Uma marcante característica da curta carreira da banda é que seus poucos discos são muito equilibrados entre si: os três álbuns possuem a mesma grandeza quando comparamos sua qualidade. Já vi todos sendo citados em vários releases sobre a banda como o preferido na opinião dos autores dos textos. No entanto, tenho que citar que o segundo, Fear no Evil, é mencionado um número menor de vezes.

Steve Grimmet e
Nick Bowcott nos anos 80
Depois do Grim Reaper, Steve Grimmet partiu para o Onslaught, onde esteve entre 1988 e 1990. Nessa época somente um álbum foi gravado. Em seguida, montou o Lionsheart que resultou em quatro álbuns de estúdio e um ao vivo, entre o período de 1993 e 2004. Durante o tempo com o Lionsheart, Steve ainda participou de um projeto chamado Friction, que também rendeu apenas um disco, além de ter reformulado, em 2005, uma antiga banda que tinha, antes mesmo do Chateaux, o Medusa, registrando Clash of Titans.

Posteriormente a seu tempo à frente do Grim Reaper, o guitarrista Nick Bowcott trabalhou como compositor free lancer, sendo depois contratado como escritor pelas revistas Circus e Guitar World. Também trabalhou com o fabricante dos lendários amplificadores Marshall.

Steve Grimmet
Em 1994, o nome Grim Reaper apareceu novamente na mídia graças à aparição do clipe de “See You in Hell” durante um episódio de Beavis and Butthead. O engraçado é que a dupla curtiu a música, mesmo comentando que o tipo de som era datado, com ressalvas de que a banda era muito conhecida antes deles nascerem.

Pouco tempo atrás, Steve Grimmet reformulou o Grim Reaper, porém sem o guitarrista Nick Bowcott. Até por isso, o vocalista não está usando exatamente o nome da banda e sim “Steve Grimmet’s Grim Reaper” chegando a fazer alguns shows no Brasil em novembro de 2010 junto com outra clássica banda da NWOBHM, o Raven.

See You in Hell [1983]

Gravado em apenas quatro dias, See You in Hell, conseguiu sucesso e chegou à posição de número 73 na Billboard. Também teve o videoclipe da faixa título circulando com boa frequência na MTV. O álbum conta com uma produção ruim, algo normal na época, principalmente em se tratando de bandas novas. Lembremos que, mesmo o Iron Maiden, que havia assinado com a poderosa gravadora EMI, gravou um primeiro álbum cuja produção é até hoje criticada pelo baixista Steve Harris. Na época do lançamento, o heavy metal já havia se estabelecido na cena musical, e várias bandas já tinham conquistado grande sucesso, e com o Grim Reaper não foi diferente, vendendo mais de 250 mil cópias nos EUA. Muito desse sucesso se deve à arrebatadora voz de Steve Grimmet que era um diferencial da banda, o que é mostrado logo de cara em “Dead on Arrival”. “See You in Hell” sem dúvida nenhuma é o maior destaque. Décadas depois, essa música foi inserida em um jogo da famosa série “Guitar Hero”, mostrando que ainda existe quem se lembre do Grim Reaper. Após ela vem “Dead on Arrival” e “Wrath of the Reaper”. Também se faz presente uma daquelas belas baladas heavy metal, “The Show Must Go On”.

Fear no Evil [1985]

Contando com um tempo “muito superior” ao que teve para gravar o primeiro disco, Fear no Evil precisou de nove dias (!) para ser finalizado. A produção teve uma ligeira melhora. A bateria, para variar, tinha um novo comandante, ficando dessa vez a cargo de Marc Simon, substituindo Lee Harris. Outro videoclipe, também para a faixa título, foi gravado, tendo também boa visibilidade na MTV. “Fear No Evil” possui leves mudanças de andamento e uma ótima passagem com guitarras gêmeas, mesmo com a banda contando com apenas um guitarrista, algo normal em se tratando de gravações em estúdio. Seu refrão faz com que todos cantem mesmo que tenham conhecido a banda há pouco tempo. Outro destaque é “Lay It on the Line”, que não é um cover da banda canadense Triumph, e sim uma música com uma pegada hard/heavy, quase nos moldes dos grupos de hard rock norte-americanos. A faixa “Lord of Darkness” possui uma vocalização que se assemelha a do próprio Belzebu, apresentando a canção. O mesmo tipo de voz foi usado no desnecessário diálogo inicial de “Final Scream”, mas dessa vez com a companhia de outra voz infantilizada. Bem brega!!! Muito se fala que a fase vivida pelo heavy metal mundial nessa época atrapalhou a banda, já que o interesse de muitos estava voltado para o speed e para o thrash metal. Como o Grim Reaper enveredava para os caminhos do heavy tradicional com pitadas de hard rock, o grupo teve uma repercussão menor que a merecida. Muitos outros fatores podem ter influenciado o resultado, mas historicamente é isso que vai ficar.

Rock You to Hell [1987]

Logo depois de Fear No Evil o Grim Reaper iniciou o processo de composição, ainda em 1986, de seu álbum seguinte, que seria chamado de “Night of the Vampire”. O resultado final não agradou à gravadora que distribuía seus discos nos EUA, a RCA. Dessa maneira, a RCA pagou outro produtor para regravar o disco, o que fez com que a gravadora inglesa, a Ebony Records, alegasse quebra de contrato. Depois de todo esse imbróglio o Grim Reaper finalmente colocou no mercado Rock You to Hell, resultado da regravação de “Night of the Vampire”. Para variar, houve mais uma mudança de baterista, posto preenchido aqui por Lee Harris, que retornava à banda. Mostrando uma enorme evolução em relação à produção dos discos anteriores, o álbum foi mais um sucesso. Esse é o registro mais variado do quarteto, e que conta com as músicas mais agressivas da banda. A faixa-titulo é perfeita para apresentações ao vivo, com seu refrão que pede o acompanhamento em uníssono do público. Ela é seguida pela ótima “Suck and See”, que demonstra a já citada versatilidade do álbum. “Night of the Vampire” mostra porque queriam fazê-la faixa-título do álbum planejado, um heavy metal classudo. Rock You to Hell é meu álbum preferido do Grim Reaper, e toda vez que ouço a faixa “Lost For Freedom” eu entendo o porquê. Não que seja a minha música preferida da banda, mas a simplicidade e a qualidade do refrão mostra que nem sempre é necessário virtuosismo para que algo seja tão bom. É difícil encontrar um destaque negativo, pelo contrário, na sequência temos a pesada “Rock Me ‘Till I Die”, seguida por “You Wish That Your Were Never Born”. “Waysted Love” traz mais um exemplo do hard rock que era incorporado tão bem pela banda. O disco fecha, ironicamente, com a canção “I Want More”, sendo que o Grim Reaper não teve mais nada depois disso. Com todo o desgaste advindo da gravação do álbum e de seu lançamento, a banda acabou se desfazendo, mesmo com um disco tão bom, colocando um ponto final na carreira dessa excelente e atualmente subestimada banda.