Por Fernando Bueno
Formado na Inglaterra em 1979 pelo guitarrista Nick Bowcott, o Grim Reaper é, hoje em dia, injusta e praticamente desconhecido, juntando-se à categoria das bandas que mereciam melhor sorte. Após uma grande sequência de mudanças em sua formação, o grupo se estabeleceu com Steve Grimmett (egresso do Chateaux), na voz e Dave Wanklin no baixo. A bateria continuou sendo um problema, dado que vários músicos ocuparam essa posição no quarteto.
Apesar de sua origem datar de 1979 e de ser caracterizado como integrante da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), o Grim Reaper gravou seu primeiro disco apenas em 1983, quando as grandes bandas do movimento já tinham sucesso estabelecido. Talvez isso tenha influenciado no fato do grupo ser pouco lembrado hoje em dia, tendo em vista que a concorrência era muito grande, em especial vinda de bandas como Iron Maiden, Saxon e Def Leppard, que polarizavam a cena. Seu contrato com a Ebony Records foi conseguido depois de terem vencido um concurso chamado Battle of the Bands, em que participavam cem bandas.
Uma marcante característica da curta carreira da banda é que seus poucos discos são muito equilibrados entre si: os três álbuns possuem a mesma grandeza quando comparamos sua qualidade. Já vi todos sendo citados em vários releases sobre a banda como o preferido na opinião dos autores dos textos. No entanto, tenho que citar que o segundo, Fear no Evil, é mencionado um número menor de vezes.
Steve Grimmet e Nick Bowcott nos anos 80 |
Depois do Grim Reaper, Steve Grimmet partiu para o Onslaught, onde esteve entre 1988 e 1990. Nessa época somente um álbum foi gravado. Em seguida, montou o Lionsheart que resultou em quatro álbuns de estúdio e um ao vivo, entre o período de 1993 e 2004. Durante o tempo com o Lionsheart, Steve ainda participou de um projeto chamado Friction, que também rendeu apenas um disco, além de ter reformulado, em 2005, uma antiga banda que tinha, antes mesmo do Chateaux, o Medusa, registrando Clash of Titans.
Posteriormente a seu tempo à frente do Grim Reaper, o guitarrista Nick Bowcott trabalhou como compositor free lancer, sendo depois contratado como escritor pelas revistas Circus e Guitar World. Também trabalhou com o fabricante dos lendários amplificadores Marshall.
Steve Grimmet |
Em 1994, o nome Grim Reaper apareceu novamente na mídia graças à aparição do clipe de “See You in Hell” durante um episódio de Beavis and Butthead. O engraçado é que a dupla curtiu a música, mesmo comentando que o tipo de som era datado, com ressalvas de que a banda era muito conhecida antes deles nascerem.
Pouco tempo atrás, Steve Grimmet reformulou o Grim Reaper, porém sem o guitarrista Nick Bowcott. Até por isso, o vocalista não está usando exatamente o nome da banda e sim “Steve Grimmet’s Grim Reaper” chegando a fazer alguns shows no Brasil em novembro de 2010 junto com outra clássica banda da NWOBHM, o Raven.
See You in Hell [1983]
Gravado em apenas quatro dias, See You in Hell, conseguiu sucesso e chegou à posição de número 73 na Billboard. Também teve o videoclipe da faixa título circulando com boa frequência na MTV. O álbum conta com uma produção ruim, algo normal na época, principalmente em se tratando de bandas novas. Lembremos que, mesmo o Iron Maiden, que havia assinado com a poderosa gravadora EMI, gravou um primeiro álbum cuja produção é até hoje criticada pelo baixista Steve Harris. Na época do lançamento, o heavy metal já havia se estabelecido na cena musical, e várias bandas já tinham conquistado grande sucesso, e com o Grim Reaper não foi diferente, vendendo mais de 250 mil cópias nos EUA. Muito desse sucesso se deve à arrebatadora voz de Steve Grimmet que era um diferencial da banda, o que é mostrado logo de cara em “Dead on Arrival”. “See You in Hell” sem dúvida nenhuma é o maior destaque. Décadas depois, essa música foi inserida em um jogo da famosa série “Guitar Hero”, mostrando que ainda existe quem se lembre do Grim Reaper. Após ela vem “Dead on Arrival” e “Wrath of the Reaper”. Também se faz presente uma daquelas belas baladas heavy metal, “The Show Must Go On”.
Fear no Evil [1985]
Contando com um tempo “muito superior” ao que teve para gravar o primeiro disco, Fear no Evil precisou de nove dias (!) para ser finalizado. A produção teve uma ligeira melhora. A bateria, para variar, tinha um novo comandante, ficando dessa vez a cargo de Marc Simon, substituindo Lee Harris. Outro videoclipe, também para a faixa título, foi gravado, tendo também boa visibilidade na MTV. “Fear No Evil” possui leves mudanças de andamento e uma ótima passagem com guitarras gêmeas, mesmo com a banda contando com apenas um guitarrista, algo normal em se tratando de gravações em estúdio. Seu refrão faz com que todos cantem mesmo que tenham conhecido a banda há pouco tempo. Outro destaque é “Lay It on the Line”, que não é um cover da banda canadense Triumph, e sim uma música com uma pegada hard/heavy, quase nos moldes dos grupos de hard rock norte-americanos. A faixa “Lord of Darkness” possui uma vocalização que se assemelha a do próprio Belzebu, apresentando a canção. O mesmo tipo de voz foi usado no desnecessário diálogo inicial de “Final Scream”, mas dessa vez com a companhia de outra voz infantilizada. Bem brega!!! Muito se fala que a fase vivida pelo heavy metal mundial nessa época atrapalhou a banda, já que o interesse de muitos estava voltado para o speed e para o thrash metal. Como o Grim Reaper enveredava para os caminhos do heavy tradicional com pitadas de hard rock, o grupo teve uma repercussão menor que a merecida. Muitos outros fatores podem ter influenciado o resultado, mas historicamente é isso que vai ficar.
Rock You to Hell [1987]
Logo depois de Fear No Evil o Grim Reaper iniciou o processo de composição, ainda em 1986, de seu álbum seguinte, que seria chamado de “Night of the Vampire”. O resultado final não agradou à gravadora que distribuía seus discos nos EUA, a RCA. Dessa maneira, a RCA pagou outro produtor para regravar o disco, o que fez com que a gravadora inglesa, a Ebony Records, alegasse quebra de contrato. Depois de todo esse imbróglio o Grim Reaper finalmente colocou no mercado Rock You to Hell, resultado da regravação de “Night of the Vampire”. Para variar, houve mais uma mudança de baterista, posto preenchido aqui por Lee Harris, que retornava à banda. Mostrando uma enorme evolução em relação à produção dos discos anteriores, o álbum foi mais um sucesso. Esse é o registro mais variado do quarteto, e que conta com as músicas mais agressivas da banda. A faixa-titulo é perfeita para apresentações ao vivo, com seu refrão que pede o acompanhamento em uníssono do público. Ela é seguida pela ótima “Suck and See”, que demonstra a já citada versatilidade do álbum. “Night of the Vampire” mostra porque queriam fazê-la faixa-título do álbum planejado, um heavy metal classudo. Rock You to Hell é meu álbum preferido do Grim Reaper, e toda vez que ouço a faixa “Lost For Freedom” eu entendo o porquê. Não que seja a minha música preferida da banda, mas a simplicidade e a qualidade do refrão mostra que nem sempre é necessário virtuosismo para que algo seja tão bom. É difícil encontrar um destaque negativo, pelo contrário, na sequência temos a pesada “Rock Me ‘Till I Die”, seguida por “You Wish That Your Were Never Born”. “Waysted Love” traz mais um exemplo do hard rock que era incorporado tão bem pela banda. O disco fecha, ironicamente, com a canção “I Want More”, sendo que o Grim Reaper não teve mais nada depois disso. Com todo o desgaste advindo da gravação do álbum e de seu lançamento, a banda acabou se desfazendo, mesmo com um disco tão bom, colocando um ponto final na carreira dessa excelente e atualmente subestimada banda.
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