Friday, March 04, 2011

Spock's Beard - Snow [2002]


Após cinco ótimos discos o quinteto resolveu lançar seu mais audacioso disco e, como todos sabem, no rock progressivo isso significa muito trabalho, longa duração e, de preferência, um conceito a ser explorado durante todo o álbum. Assim sendo, a história concebida para ser contada é a de um rapaz de cidade pequena, que vai viver em uma das maiores cidades do mundo, Nova York. O álbum conta a história desse rapaz e de suas experiências na cidade. Logo após o lançamento do disco o vocalista do grupo resolveu que seu caminho devia ser trilhado sozinho e deixou seus antigos companheiros. No seu lugar, ao invés de trazer alguém de fora resolveram com uma solução caseira; promover o cara que normalmente menos aparece no palco a líder da banda, isto é, o baterista resolveu cantar.

Essa história é muito conhecida dos fãs de progressivo dos anos 70. O Genesis havia lançado alguns ótimos álbuns e logo após The Lamb Lies Down On Broadway, o lendário Peter Gabriel resolveu sair para uma boa carreira solo, deixando o posto para Phil Collins. Porém, essa história também serve para descrever exatamente do mesmo jeito a história de um outro grupo progressivo, o Spock’s Beard. Após cinco álbuns e já tendo conquistado certo espaço entre os fãs do estilo, seu vocalista, que também tocava algumas partes de teclado, Neal Morse, “encontrou Deus” logo após a gravação de Snow e resolveu sair da banda. Para o seu lugar como cantor foi escolhido Nick D’Virgilio, então baterista do próprio Spock’s Beard, que ainda conta com Alan Morse (guitarra), Ryo Okumoto (teclado) e Dave Meros (baixo).

Formação na gravação de Snow: Dave Meros,
Nick D' Virgilio, Ryo Okumoto, Neal Morse e Alan Morse
Com a saída de Neal Morse a banda continuou com sua sonoridade vinculada ao progressivo, mas agora de uma maneira mais acessível, seguindo a linha de bandas como Marillion e The Flower Kings. Os discos continuaram muito bons, em especial X, de 2010. Mas este artigo tem a intenção de falar sobre esse que para muitos é o melhor disco da banda, e que também sofreu diversas críticas que serão citadas no decorrer do texto.

Antes gostaria de falar um pouco da história que é contada ao longo do disco. Como resumido anteriormente, é a história de um garoto de uma cidade pequena que vai para Nova York. Porém, esse rapaz possui algumas características em especial. Ele nasceu dentro de uma família de trabalhadores rurais que tinham apenas o trabalho e a religião como ocupação. Porém, mesmo com poucos afazeres, e muito devido a isso também, é difícil para ele conviver com as pessoas da sua comunidade, de se envolver e se relacionar. Muito disso se deve ao fato de ele ser albino, fazendo com que as pessoas que o conhecem passassem a chamá-lo de Snow (neve) – “the working man's son, with skin like white lightning, and eyes like two shots from a gun”.

Para aumentar ainda mais seu isolamento entre as pessoas com que vive, ele possui o dom especial de saber o que as pessoas sentem. Assim ele conhece todas as mentiras e as indecências das pessoas. Porém, ele guarda esse segredo até se tornar um adolescente.

Após uma experiência espiritual, cuja natureza não fica clara no decorrer do álbum, ele decide deixar sua família para ir à Nova York, afinal é para lá que todo mundo quer ir. Então ele começa a passear pela cidade, olhando, checando, avaliando tudo e todos com os olhos inocentes de um garoto que nunca tinha estado em um lugar como esse e tinha poucas experiências realmente interessante na vida.

Nessas suas andanças ele conhece um rapaz, que na história é chamado de Harlem Knight, um garoto negro que o leva para um show de strip tease. Nesse momento descobre-se que Snow também tem poderes de cura. Knight e Snow começam a curar e converter pessoas de má índole que habitam a cidade. Os dois então criam uma organização chamada “The Touch That Heals”. Passam-se dois anos com as coisas indo muito bem e Snow se torna cada vez mais famoso, chegando à capa da revista Time. Porém, com o sucesso, seu ego começa a atrapalhá-lo.

No disco dois a história conta que ele conhece uma garota chamada Carie, que muda toda sua vida, fazendo-o cair em profunda depressão. Mas seu poder de ver os desejos das pessoas não o ajuda com Carie. Na verdade não é dito na história que seus poderes não funcionam com Carie, mas isso fica implícito. Porém, esse detalhe é utilizado por aqueles que julgam que a história do álbum é fraca. Na visão dessas pessoas, essa é uma informação importante e deveria ficar clara, ou então há um erro de continuidade da história. Mas seguindo o enredo, certo dia ele toca Carie, cai em transe e se vê andando nas ruas da cidade, bêbado e à beira da morte. Tendo essa visão, sua vida começa a desmoronar e Snow perde todo o respeito que tem das outras pessoas. A visão se torna realidade.

O final da história é um pouco confuso, com seu amigo Knight levando-o para um hospital, onde Snow volta à vida. Não sabemos se ele curou-se sozinho ou se foi Deus que assim o fez. Na verdade, tenho a impressão que Neal Morse deixou essa lacuna para que o ouvinte tire suas próprias conclusões. A parte engraçada é que, durante a história, Snow vai assistir a um show do Spock’s Beard, fato relatado na canção chamada “Ladies and Gentlemen, Mister Ryo Okumoto on the Keybords”.
Esse é um resumo da história contada ao longo dos dois discos de Snow. As convicções religiosas de Morse já se mostram bem claras em algumas passagens. É uma boa história? Cada um deve ter seu próprio julgamento. As críticas que li baseiam-se na opinião de que é pouca história para um disco tão longo. Eu acho interessante e considero o conceito desse álbum como uma mistura de The Lamb Lies Down on Broadway (Genesis) com Tommy (The Who).

Na parte musical temos um excelente disco com várias músicas de destaque. O primeiro CD é visivelmente superior ao segundo, mas sempre que ouço o álbum tento fazê-lo por completo, e após um longo tempo é natural que a concentração se perca. Tenho que ouvir mais vezes só o segundo CD para absorvê-lo melhor. Também temos o fato de que ao longo do álbum diversas passagens musicais são repetidas, trazendo unidade para o álbum em si, mas isso acaba fazendo com que algumas passagens do segundo álbum já não sejam novidade, apesar de muito boas. Esse é um tipo de expediente muito utilizado pelas bandas de progressivo em álbuns conceituais.

Os maiores destaques do disco são: “Stranger in a Strange Land”, “Welcome to NYC”, a linda “Open Wide the Flood Gates” e “All Is Vanity”. Também há duas Overtures na abertura de cada CD que são excelentes, iniciando perfeitamente ambos os discos.

Formação atual: sem Neal Morse
Mas o destaque maior vai para “Long Time Suffering”. Conheci a banda por meio dessa canção, em meados de 2003, e tinha a intenção de escrever esse texto como uma matéria para a coluna do Mairon Machado, “Maravilhas do Mundo Prog”. Ela não é longa como todas as músicas citadas na coluna, mas é maravilhosa. Seu instrumental no início lembra fortemente algumas canções de Yes e Emerson, Lake and Palmer, mas se engana quem acha que vai encontrar nessa faixa apenas viagens sonoras. A frase de guitarra no início é de emocionar qualquer um. Harmonia, melodia e emoção dosadas perfeitamente com um certo apelo pop que poderia até tocar nas rádios, inclusive possuindo um grande refrão. Esse é o tipo de música que qualquer um vai gostar, independente de que subestilo do rock a pessoa aprecie, e ouso dizer que em muitas músicas o Spock's Beard consegue isso. Há uma mudança no andamento, mas sem ser brusca como costuma acontecer no progressivo, um solo com perceptível improviso, com um efeito não usual, e uma seção de voz a cappela nos moldes do que o Gentle Giant fez maravilhosamente nos anos 70, com várias vozes cantando coisas diferentes. Até agora, para mim, é a melhor música dessa banda que possui diversas ótimas canções distribuídas em todos os seus dez álbuns.


A barba de Spock (Spock's Beard)
É uma pena saber que, depois de um lançamento tão bom, a banda se separou, ainda mais por questões religiosas que não deviam ser entraves para nenhuma forma de arte. Neal Morse lançou, após um tempo, alguns discos solo não tão bons, contendo apenas alguns momentos interessantes, mas participou (e ainda participa) do Transatlantic, supergrupo do progressivo atual, que conta com Mike Portnoy (bateria, Dream Theater), Pete Trewavas (baixo, Marillion) e Roine Stolt (guitarra, The Flower Kings). O Spock’s Beard, como já disse, teve alguns outros discos que fazem juz ao material antigo e não comprometem a carreira que se seguiu. Juntamente com o Porcupine Tree o grupo lidera a onda do rock progressivo atual. Vale a pena dar uma chance para a banda.

3 comments:

DH said...

Legal o teu blog, cara.

Me fala uma coisa: o cara do blog "O Andróide Paranóico" não posta desde 2007. Sabe o motivo?

O último texto dele no blog é ótimo, quando ele fala da ida dele ao show do Roger Waters, haha.

Valeu!

Fernando Bueno said...

Valeu pelo comentário Délio. Não sei o que anda fazendo o Andróide, deve estar ocupado trabalhando....hehehehe
Eu atualizo meu boog sempre que posto uma matéria em outro blog o Consultoria do Rock, que tem atualizações mais frequentes...entra lá!!!

DH said...

Hum, vejo depois sim.

Na verdade nem gosto de ver esses blog de musica, pois me dá vontade de baixar tudo e minha conexão e falta de empo não deixam. Aí fico angustiado.
Tu tem lastfm?