Friday, April 08, 2011

Review Exclusivo: " Eu vi o Iron Maiden de perto em Belém"


Por Jairo Granado
Revisão e comentários finais por Fernando Bueno

O dia 1º de abril de 2011 ficará marcado na minha vida como o dia no qual realizei um sonho: estive em um show do Iron Maiden. Não foram somente quatro meses de espera, desde o dia em que fiquei cinco horas em pé, em uma madrugada de dezembro, aguardando na frente de um shopping center para comprar o ingresso no primeiro dia de venda. Essa espera ocorre desde 1982, quando, aos sete anos de idade, escutei o disco The Number of the Beast que minha irmã havia comprado.

O Iron Maiden foi e ainda é a trilha sonora da minha vida, mas sempre imaginei que nunca conseguiria vê-los ao vivo. Cresci deitado na frente de um aparelho de som, com os fones de ouvido e lendo os encartes dos discos, imaginando como seria maravilhoso se eu pudesse presenciar um show da minha banda preferida.

Ed Force One, o avião particular do Iron Maiden, pilotado por Bruce Dickinson

Mas esse dia chegou. Eu e meu brother Fernando Bueno chegamos ao local do show antes das 16 horas e a fila já era enorme. Chuva torrencial, todo mundo molhado, mas feliz em estar vivendo esse momento histórico na capital paraense. O único ponto negativo desse dia foi a péssima organização da Bis Promoções e Eventos. Não havia ninguém da produtora para organizar e orientar os fãs, ficamos dentro de uma vala com lama cobrindo nossos tênis e várias pessoas aproveitaram a falta de fiscalização para furarem a fila. Acho que a produtora, acostumada a trazer a Belém os Parangolés e Restarts da vida, deve ter imaginado que headbanger não é gente, só pode ser isso.

Depois de entrarmos no Cidade Folia (local do show), continuava sem acreditar que, dentro de poucas horas, meus ídolos estariam na minha frente. A noite começou com a abertura da banda paraense Stress, pioneiros no metal nacional, que fizeram a galera cantar seus grandes clássicos. O baixista e vocalista Roosevelt Bala estava visivelmente emocionado, fato que eu e Fernando comprovamos quando conversamos com ele no final do show. Grande show e um merecido reconhecimento para o Stress.

Iron Maiden em ação no palco de Belém.

Com poucos minutos de atraso, começou a ecoar a gravação de "Doctor Doctor" do UFO e a galera foi ao delírio, já que todos sabem que essa é a deixa para o início do show. O espetáculo iniciou com a longa introdução da música "Satellite 15... The Final Frontier", e confesso que foi angustiante esperar. Não consegui ver a entrada do Nicko McBrain atrás da bateria, mas de repente surgiram Adrian Smith, Dave Murray, Janick Gers e Steve Harris. Não acreditava naquilo. Estava bem perto de Adrian e Dave e confesso que meu coração quase saiu pela boca. De repente vejo um cidadão correndo, dando um salto e caindo de pé em minha frente. Era Bruce Dickinson, a poucos metros de mim. Até o final da primeira música e durante toda a segunda, "El Dorado", não fiz nada além de olhar para os caras e me perguntar se aquilo realmente estava acontecendo. Para aumentar ainda mais meus batimentos cardíacos, Steve Harris se aproximou e apontou o baixo para frente, como nos vídeos que cresci assistindo.

Ouvir Bruce Dickinson gritando "scream for me Belém" e a banda tocando "2 Minutes to Midnight" foi maravilhoso. O show seguiu com mais duas músicas do disco novo, "The Talisman" e "Coming Home", que serviram para que eu recuperasse o fôlego. "Dance of Death" ao vivo é maravilhosa. O que dizer da sensação em ver Bruce Dickinson com a bandeira do Reino Unido cantando "The Trooper"? O show seguiu com "The Wicker Man" e "Blood Brothers", dedicada por Bruce aos fãs do Japão, como já havia feito em todos os shows após a tragédia em terras nipônicas. A melhor música do disco novo não faltou: "When the Wild Wind Blows". Ainda tivemos "The Evil that Men Do" e "Fear of the Dark", quando eu perdi minha voz definitivamente. Encerraram a primeira parte com a clássica "Iron Maiden", quando outro sonho foi realizado: ver Eddie de perto.

Conferindo o Iron Maiden pela primeira vez

Após uma pequena espera, o bis começou com "The Number of the Beast". Não aguentei e chorei, agradecido por estar vivendo aquele momento. "Hallowed Be Thy Name" foi magnífica e o final com "Running Free" me deu a sensação de estar na gravação do álbum Live After Death (1985).

Esperei 28 anos para ver de perto meus ídolos, e desde o dia do show não paro de pensar em cada momento que vivi naquele 1º de abril. Dia que ficará marcado para sempre na minha vida como um dos momentos mais importantes de todos. Banda perfeita, show perfeito, mas com uma organização que poderia ter sido muito melhor. Quem sabe da próxima vez a produtora aprenda com os erros? Torço por isso. Up the Irons!

Set list:
1. Satellite 15... The Final Frontier
2. El Dorado
3. 2 Minutes to Midnight
4. The Talisman
5. Coming Home
6. Dance of Death
7. The Trooper
8. The Wicker Man
9. Blood Brothers
10. When the Wild Wind Blows
11. The Evil that Men Do
12. Fear of the Dark
13. Iron Maiden

Bis:
14. The Number of the Beast
15. Hallowed Be Thy Name
16. Running Free


Comentários por Fernando Bueno

Quando escolhi Belém para assistir o show dessa turnê brasileira, não havia pensado, nem lembrado, que esse seria a primeira apresentação da banda na cidade paraense. Mesmo na fila - aliás, fila é um modo muito simpático para chamar aquela aglomeração desordenada - fiquei pensando que, se for feito um levantamento de todas cidades do mundo onde o Iron Maiden já tocou, é possível que essa lista seja a mais extensa entre todas as bandas que já fizeram turnês mundiais.

Lista de cidades compreendidas na primeira parte da turnê

Estive no show de 1998 no estacionamento do Anhembi (São Paulo). Quem foi lembra da chuva que caiu durante a apresentação do Helloween. Foi um dilúvio, mas confrontada com a que caiu na sexta feira passada, a chuva de São Paulo é comparável a uma garoa. Não ficaria surpreso se alguém dissesse que quem rotulou São Paulo como a terra da garoa foi um paraense. Os ingleses do Iron Maiden, acostumados ao chá das cinco, foram apresentados à famosa chuva das cinco de Belém.

Achei a escalação do Stress a mais acertada dos últimos tempos para a abertura de bandas importantes em terras brasileiras. Claro que o fato do grupo ser da cidade ajudou, mas acredito que ninguém merecia tanto essa oportunidade. Conversando com Roosevelt Bala após o show, deu para ver que o cara estava muito feliz com o que tinha acabado de ocorrer. É claro que não posso deixar de elogiar a performance da banda, que foi ótima.

Veterano, mas ainda emocionado

O show do Iron Maiden em si não teve surpresas. Hoje em dia nós sabemos previamente a sequência das músicas e que a banda não costuma mudar o set list de show para show. Penso que a apresentação do sexteto é como uma peça de teatro. Tudo programado e roteirizado. A diferença é que a atuação é sempre em altíssimo nível.

Muitos reclamam dessa falta de supresas, no entanto penso que ela é normal. Afinal, mesmo que o Iron Maiden tenha tocado diversas vezes em várias cidades pelo mundo, muita gente que vai a um desses shows está fazendo isso pela primeira vez, como foi o caso do Jairo, e a banda atende perfeitamente a esses fãs. O resultado disso é que o grupo tem uma renovação de fãs invejável em relação a muitos outros artistas.

O material do novo disco, The Final Frontier (2010), ficou ótimo ao vivo. Foram cinco músicas do álbum entre as desesseis que foram executadas. É uma porcentagem grande, mas depois da turnê focada em clássicos dos anos 80, essa escolha em abordar o material mais recente é natural.

Grande show como sempre, e que venham muitos outros!

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