Thursday, October 28, 2010

1980, o ano da New Wave of British Heavy Metal


Há trinta anos atrás, nascia na Inglaterra uma cena musical que influenciaria todos os outros movimentos relativos à música pesada que foram surgindo em outros locais do mundo com o passar dos anos.

Depois do advento do punk, que baixou a bola dos grandes nomes do progressivo e das bandas de hard rock setentistas, alguns garotos ingleses que não estavam satisfeitos com a simplicidade do punk e ainda se interessavam bastante por grupos similares aos da santíssima trindade Led Zeppelin/Black Sabbath/Deep Purple começaram a formar suas próprias bandas em vários cantos do Reino Unido.

Se alguma coisa boa o punk deixou foi a atitude despojada e rebelde, tanto musical quanto comportamentalmente, que acabou sendo misturada ao estilo do hard/heavy dos anos 70.

A minha intenção nesse post não é escrever um tratado sobre a New Wave of British Heavy Metal, mas sim levantar um debate entre os leitores para podermos nos aprofundar no estilo. Listei dez discos interessantes que fazem parte do movimento, sendo que todos eles foram lançados exatamente no ano de 1980. Ou seja, essa não é uma seleção dos melhores discos da NWOBHM, mas sim uma lista que expõe como o estilo iniciou e foi se desenvolvendo.

A influência da NWOBHM pode ser medida por alguns aspectos, como o fato de ser possível identificar entre as diversas músicas que recheiam esses álbuns muitas das fórmulas que seriam utilizadas ao longo da década de oitenta na construção de vários outros gêneros do heavy metal, como o thrash da Bay Area e até mesmo o hard rock californiano.


Angel Witch – Angel Witch

Esse é um dos trabalhos mais notáveis da NWOBHM. Após o seu lançamento, a banda infelizmente iniciou um processo de desmanche. O baterista Dave Hogg foi sacado, e o baixista Kevin Riddles saiu para se juntar ao Tytan. Quando um trio perde dois componentes fica muito difícil se segurar, e assim, após uma tentativa de manter o grupo com outros músicos, Kevin Heybourne, o principal compositor, desistiu.

O disco todo é bem nivelado, porém algumas músicas se destacam, como é o caso de "Angel Witch", "Sweet Danger" e "White Witch". O instrumental é muito bem feito, com passagens bem características do estilo que estava se modelando. Alguns refrões são marcantes e a voz de Heybourne se encaixa perfeitamente.

Um fato interessante, e que poderia até mesmo ter mudado a história do heavy metal, é que durante uma turnê com bandas novas o Angel Witch simplesmente abandonou a excursão e a gravadora EMI, deixando o Iron Maiden como o nome principal da gravadora. Quem sabe se eles tivessem continuado as coisas não seriam diferentes?


Def Leppard – On Through the Night

Nunca é demais lembrar que o Def Leppard não é só aquela banda que gravou um monte de baladas no meio dos anos oitenta. Por esse motivo, muita gente nem sabe que o grupo é britânico, já que tem seu nome sempre relacionado ao mercado radiofônico norte-americano. No início de sua carreira o Def Leppard fazia turnês com Iron Maiden, Samson e Tygers of Pan Tang. Daí eles resolveram mudar seu som para algo mais acessível, para se encaixar ao gosto do público americano. Foram muito bem sucedidos e gravaram ótimos álbuns, mas o heavy metal do início foi deixado de lado - apesar de que a música "Hello America" é meio que um presságio para o que viria acontecer mais tarde.

É desse disco a faixa "Rock Brigade", cujo título serviria para batizar a lendária revista brasileira, que certamente foi companheira de muitos dos leitores da Collector´s Room. Para os que ainda torcem o nariz para o Def Leppard por só conhecerem "Love Bites", recomendo darem uma chance para esse disco e ao seu sucessor, o também muito bom High´n´Dry, lançado em 1981.


Diamond Head – Lightning to the Nations

O Diamond Head é talvez mais conhecido como influência para o Metallica do que pela sua própria música em si. Posso falar isso por minha própria experiência com a banda. Sempre soube da sua existência quando lia a história do Metallica, mas nunca tinha tido oportunidade de ouvir o grupo. Foi apenas depois de muito tempo e com o surgimento do MP3 que consegui enfim escutar as músicas da banda tocadas pela própria, já que conhecia os covers feitos pelo Metallica. Aliás, esse disco tem sete faixas, e quatro delas foram regravadas pela gangue de James Hetfield - e são justamente os destaques do play.

Conhecer o Diamond Head é obrigação para quem quer se aprofundar na NWOBHM, porém o motivo do grupo não ter se consolidado foi talvez a mudança de direção musical ocorrida no terceiro disco – Canterbury, de 1983 -, que distanciou os fãs. Isso, somada à enorme concorrência das bandas do estilo naquela época, acabaram colocando o grupo em segundo plano.


Iron Maiden – Iron Maiden

Falar sobre esse álbum é chover no molhado. Todo cara que gosta de heavy metal já ouviu e conhece esse disco. Steve Harris sempre diz que a gravação poderia ter sido melhor - fico imaginando o que aconteceria se isso acontecesse. A estreia do Iron Maiden já é um clássico, imagine então melhorada.

Se alguém pegar todos os discos dessa lista e ouvi-los em sequência certamente irá perceber que os riffs, o modo de tocar e de cantar são semelhantes, mostrando que, por mais que a banda tenha tido muito mais sucesso e reconhecimento que as outras, a raiz de todos os grupos foi a mesma. Difícil citar destaques nos discos do Iron Maiden, mas “Phantom of the Opera” e “Prowler” são demais.

Judas Priest – British Steel

Fiquei em dúvida se colocava esse disco nessa minha lista. Afinal, o Judas Priest nessa época não tinha nada de “new”, diferentemente de todas as outras bandas que cito nessa matéria. Ou seja, o Judas Priest não fazia parte da NWOBHM, porém talvez foi o grupo que mais se fortaleceu após o surgimento da cena, já que aproveitou a partida do trem e acabou sendo a locomotiva do estilo num primeiro momento.

O Judas foi a primeira banda a se intitular como heavy metal. O próprio Black Sabbath rejeitou o rótulo durante muito tempo. O grupo de Rob Halford já havia lançado alguns ótimos álbuns – sendo os principaisSad Wings of Destiny e Sin After Sin -, quando em 1980 soltou British Steel, um disco tão bom que quem conhece apenas as melhores músicas dos caras vai achar que está ouvindo uma coletânea. Esse álbum definiu o tipo de som que seria tocado durante a década de oitenta.

É difícil destacar alguma música no meio de tantos clássicos, mas não posso deixar de citar "Breaking the Law", que poderia até ter sido o título do LP tamanha a identificação da faixa com o disco. Também tem "Metal Gods", que se tornou a alcunha da banda – e principalmente de Rob Halford -, e "Living After Midnight" , que de tão boa acaba com qualquer possível discussão sobre se é pop ou não.


The Michael Schenker Group – The Michael Schenker Group

Apesar de ser alemão e de ter participado do início do Scorpions, o guitarrista Michael Schenker tem uma forte ligação com a Inglaterra por ter sido parte do período mais fértil da excelente banda UFO. Aliás, esse grupo, junto com o Thin Lizzy e alguns outros, foi muito importante para a construção musical da NWOBHM.

Depois de sua saída do UFO e de um rápido retorno ao Scorpions, ele formou o Michael Schenker Group com o vocalista Gary Barden - que nos anos noventa participaria também de outra banda importante do movimento, o Praying Mantis.

O álbum é catalogado em muitos lugares como hard rock, porém ele se encaixa perfeitamente com a sonoridade das bandas da NWOBHM, que ainda tinham muita influência do hard rock da década de 70. Participam do disco Don Airey, que já tocou com o Black Sabbath e muitas outros grupos e hoje é tecladista do Deep Purple, e Roger Glover, que fez a produção. Em alguns momentos do LP eu me lembro do Alcatrazz (principalmente em "Looking Out From Nowhere"). Por coincidência, o vocalista Graham Bonnet, ex-Alcatrazz, entraria na banda de Schenker alguns anos depois.

Os destaques são "Armed and Ready", "Victim of Illusion" e "Lost Horizons", esta última com uma fórmula que seria utilizada à exaustão futuramente por todas as bandas do metal melódico.


Samson – Head On

No início do grupo o guitarrista Paul Samson também era o vocalista. Lançou um disco com essa formação, o apenas interessante Survivors. Porém, com a entrada de um novo vocalista, tudo mudou. O salto de qualidade foi enorme. Desse modo, resolveram até regravar algumas faixas do primeiro LP com a voz de Bruce Bruce, um bigodudo que mais parecia um integrante de alguma banda de hard rock lá do início da década de 70. Depois de passar a assinar como Bruce Dickinson e gravar um segundo álbum com o Samson, Bruce Bruce aceitou o convite para entrar no Iron Maiden. O resto todo mundo conhece.

Apesar da qualidade musical inquestionável, é interessante saber que eles estavam sempre quebrados financeiramente - e é muito provável que essa tenha sido a razão para que Bruce tenha aceitado sair da banda. Afinal, naquela época ninguém sabia que o Iron Maiden se transformaria no principal nome do heavy metal. Comparando a carreira das bandas, o Samson já tinha três discos e o Maiden apenas dois, mas o que pesou na balança certamente foi a visão de Steve Harris.

"Hard Times", "Vice Versa" e "Walking Out On You", essa última bem hard setentista, são os destaques. Ao ouvir o disco pela primeira vez alguns vão reconhecer a faixa “Thunderburst”. Sim, é a mesma “The Ides of March”, introdução do álbum Killers, do Iron Maiden. A música foi composta em parceria por Steve Harris e Thunderstick, baterista do Samson na época e que chegou a integrar o Maiden.


Saxon – Wheels of Steel

Tenho que admitir que o meu interesse pelo Saxon é tardio. Até cerca de um ano atrás eu só conhecia uma coletânea de clássicos que adquiri após ter assistido ao grupo em um dos Monsters of Rock que aconteceram na década de 90. Comecei a adquirir os álbuns a pouco tempo, e posso dizer que percebo o quanto isso foi uma falha.

Esse é o segundo disco da banda, que acabou lançando outro no mesmo ano, Strong Arm of the Law. A banda, juntamente com o Iron Maiden e o Judas Priest, se tornou a maior expoente do heavy metal britânico. Dentre os nomes do estilo, talvez o Saxon seja a que tinha o som mais definido. Ou seja, o estilo desse álbum seria o mesmo que muitos outros subsequentes, exceto alguns como Destiny, que é totalmente hard rock.

Os destaques são "747 (Strangers in the Night)", "Stand Up and Be Counted" e a hard "Suzie Hold On".


Tygers of Pan Tang – Wild Cat

Essa banda é sempre lembrada quando se fala em NWOBHM. Gravou diversos discos cultuados pelos entusiastas do estilo, mas o primeiro é o que realmente marcou. A primeira música, "Euthanasia", tem riffs marcantes e uma levada hard/heavy. O grupo foi responsável pelo surgimento de um guitarrista chamado John Sykes, que não tocou nesse álbum, mas depois integrou ícones como o Thin Lizzy e o Whitesnake.

Wild Cat é um disco que contém todas as características que podem ser usadas para descrever a NWOBHM. Quem quer conhecer o heavy metal oitentista tem que conhecer esse álbum. Como destaques, além da já citada “Euthanasia”, temos "Don’t Touch Me There" e "Money".


White Spirit – White Spirit

Para aqueles que acham que esse LP aparece nessa lista apenas por esta ser uma banda que contava com Janick Gers na guitarra, está enganado e precisa urgentemente ouvi-lo. Como outros grupos da época, o White Spirit tinha uma sonoridade ainda não muito definida, com muitas músicas com um jeitão de hard rock, mas, como disse anteriormente, essa é uma característica dos discos lançados na época.

O grupo costumava abrir shows da banda solo de Ian Gillan, que se impressionou com Janick Gers e o convidou para se juntar a sua Ian Gillan Band. Ao se deparar com essa proposta irrecusável, Gers deixou o White Spirit, fato que acabou servindo para encerrar a banda.

Destaque principal para "Fool For the Gods" e "Way of the Kings". Também merece menção a faixa de abertura, que tem um riff muito parecido com outra música de uma banda posterior do guitarrista.


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