Monday, June 06, 2011

Aerosmith - Rocks [1976]


Quando falamos no nome Aerosmith hoje em dia logo vem às nossas cabeças a imagem de Steven Tyler cantando uma das inúmeras baladas mela-cueca que foram gravadas pela banda nesses últimos vinte anos. É inegável que essas baladas sejam as responsáveis pela popularidade do quinteto, principalmente aqui no Brasil depois de Get a Grip [1993] e também após o lançamento da coletânea Big Ones, de 1994. Muita gente, inclusive eu mesmo, apenas ficou sabendo da existência da banda após o lançamento desses dois discos. Essa coletânea, que foi uma das mais vendidas de todos os tempos, foi composta praticamente apenas com as músicas de seus, até então, últimos três álbuns: Permanent Vacation [1987], Pump [1989] e o já citado Get a Grip. Claro que estou falando da sua edição normal, já que houve um lançamento especial com um segundo disco que era mais abrangente em relação à carreira do grupo. Desse modo, para quem conheceu a banda naquela época, a impressão que dava era que o grupo era relativamente novo.

Aerosmith em 1976

Com o enorme sucesso das canções “Crying” e “Crazy” do álbum Get a Grip, a banda percebeu que o nicho das baladas era rentável e baseou a seqüência de sua carreira nesse tipo de música. Outras bandas na época fizeram o mesmo, como é o caso do Bon Jovi. Já disse em uma matéria sobre as baladas que o fato das canções mais românticas normalmente cairem no gosto das garotas fazia que os rapazes se afastassem desse tipo de música. E o mesmo aconteceu comigo. Sempre adorei os discos já citados, mas acabei perdendo o interesse em conhecer o resto da carreira da banda, mesmo depois de saber que eles não eram mais um fruto da década de 80 e sim de muito tempo atrás, lá da prolífica década de 70.

Steven Tyler na época de Rocks
O Aerosmith é citado como influência de dez entre dez bandas que fazem todos os sub-estilos do que se convencionou a se chamar hard rock. Bandas como Guns N’ Roses e Skid Row nunca esconderam sua admiração pela banda e o próprio Slash sempre se apresentou com um visual muito parecido ao de Joe Perry.

Uma das coisas que mais impressiona quando nos aprofundamos na carreira da banda é que essa é uma das únicas que mantém a formação original desde o primeiro disco em 1973. Porém, é preciso citar o disco Rock in a Hard Place, de 1982, que foi o único sem os dois guitarristas Joe Perry e Brad Whitford. A saber, completam a banda o baixista Tom Hamilton e o baterista Joey Kramer, além, é claro, do jurado cheio de botox do American Idol, o super astro Steven Tyler.


Os jurados da última edição do American Idol com Jennifer Lopez e Steven Tyler
Para quem já conhece o álbum Rocks, lançado em 1976, sabe tudo o que será dito aqui nessas próximas linhas. É o quarto disco de estúdio do Aerosmith, ganhou vários discos de platina e foi sequência de um álbum que também teve muito sucesso, Toys in the Attic [1975]. Muitas vezes estive na iminência de adquirir esse álbum, mas, como falei acima, não tinha muitas esperanças de que ele fosse bom. Até porque freqüentemente o encontrava com preços promocionais, o que de certa forma mostra que o interesse do público em geral também não era muito grande, e isso aumentava a minha desconfiança. Claro que existem inúmeros exemplos para contrariar esse tipo de pensamento, mas foi o que aconteceu. No entanto, depois que ouvi o disco, mudei meu pensamento e também meu interesse em relação à banda.

Joe Perry

"We were doing a lot of
drugs by then, but you
can hear that whatever
we were doing, it was
still working for us."
(Joe Perry)
Depois de um tempão sem ouvir Rocks, voltei a retirá-lo da prateleira após o lançamento do livro Eddie Trunk’s Essential Hard Rock and Heavy Metal. Para quem não ligou o nome à pessoa, Eddie Trunk é apresentador de uma rádio americana e também apresenta o programa That Metal Show, veiculado pela VH1. Também li sobre o álbum na edição especial da Roadie Crew que lista 200 hinos do Heavy Metal e do Classic Rock, editada por Bento Araújo, da revista Poeira Zine. Nessa última publicação, Bento Araújo inclui “Lick and a Promisse” entre os 200 maiores hinos e comenta que o guitarrista Slash sempre alega que Rocks é sua cartilha musical. Já Eddie Trunk coloca o disco, junto com Toys in the Attic, como os melhores discos da banda. Devido à minha memória afetiva, não tenho como considerá-los dessa forma, mas é inegável que esses são excelentes discos, dignos de figurar na prateleira de qualquer amante de rock.

O álbum inicia com “Back in the Saddle”, que apresenta uma voz raivosa de Steven Tyler além de Joe Perry tocando um baixo de seis cordas. É curiosa essa troca de funções nesse que é talvez o álbum mais experimental do Aerosmith, já que Tom Hamilton toca a guitarra e Perry faz as vezes de baixista em “Sick As a Dog”. Para corroborar essa questão da experimentação também é preciso citar o uso de loops de fitas em “Rats in the Cellar”. Há também o vocal de Joe Perry acompanhando durante a música toda em “Combination”. Ao vivo existem vídeos de Perry cantando sozinho a canção inclusive com Steven Tyler nas baquetas.

Anúncio oficial de Rocks que saiu em
jornais e revistas da época
Last Child” traz um riff memorável e apresenta um groove certamente muito influenciado pelo funk que era enorme sucesso na época. Whitford também toca um ótimo solo nessa faixa, contrariando a idéia dele ser apenas um guitarrista base. Talvez o maior destaque do disco seja “Nobody’s Fault” que é uma das mais pesadas músicas da carreira do quinteto e já foi regravada por muitas outras bandas (Testament, Vince Neil e L.A. Guns). Joey Kramer diz que essa música é o melhor trabalho de bateria que ele fez na carreira.

O álbum como um todo é enérgico e principalmente bem cru. Sinto falta de um pouco mais de peso para realçar algumas músicas, mas temos que lembrar que o que o Aerosmith fazia era na linha dos Stones e Yardbirds, que não tinham o peso como uma de suas principais caraterísticas. Imaginem “Last Child” com timbres de baixo e guitarra mais pesados. Seria ótimo!

Foi na época de Rocks que a dupla Tyler/Perry ganhou a alcunha de Toxic Twins devido ao enorme consumo de drogas. Esse álbum deve ser ouvido com carinho. Para os que, como eu, têm uma certa aversão pelo Aerosmith devido ao excesso de mel dos últimos anos, digo que vale a pena dar uma chance à carreira setentista da banda. Para os que já o conhecem, mas não o consideram um bom álbum, peço para dar mais uma chance. E para aqueles que já gostam do disco, esse texto serve como um estímulo para ouvi-lo de novo.


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